‘Panorama do Choro Paulistano’ expõe um universo de linguagens sem limite

Segundo volume do projeto abraça as várias frentes que existem no cenário atual

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Por Julio Maria
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Se fosse apenas por Dominguinhos, o jogo já estaria ganho. Meses antes de ser internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde morreria em julho de 2013, Seu Domingos deixou um choro gravado para um grupo de jovens que o queria em um projeto com veias de mapeamento. Agora, ao sair o segundo volume do Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo surge uma peça inédita de Dominguinhos, daquelas em que colocava lágrima e uma ponta de sorriso no mesmo compasso, feito para o netinho Luca, o Choro pro Luca.

Seria esta a notícia se não fosse a ainda maior relevância de um sobrevoo que se torna mais pertinente em 2015, ano de uma visibilidade latente do gênero. Um trabalho dos músicos Roberta Valente e Yves Finzetto (percussão), Alexandre Ribeiro (sopros); Gian Correa (violão de sete), Henrique Araújo (bandolim) e João Poleto (flauta e sax).

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Ao traçar uma espécie de quem é quem, o compilado de compositores não exclusivamente chorões expõe as bases e a evolução estética, a fundação e o telhado de uma música já chamada pelo roqueiro Lobão (que teve a coragem de dizer o que muitos pensam) de fossilizada. Os shows de lançamento serão de hoje a domingo, às 19h15, na Caixa Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111. Gratuito).

O choro Passando a Bola, do sanfoneiro Mestrinho, aprendiz de Domingos, voa nos limites da base. Sua sanfona o leva naturalmente para debaixo do barro do chão, uma transposição feita por referências mais de um timbre com cheiro do sertão do que melódicas. Mas lá está sua harmonia para tirar tudo do conforto. Em três palavras, é um craque.

Ao homenagear o sanfoneiro pernambucano Camarão, morto em abril, o bandolinista Henrique Araújo vai com graça à zona dos tradicionalistas com Camarão, mas segue sobre a forma dando dribles harmônicos no ouvido sem romper totalmente com as resoluções que ele pede. Fica de uma alegria irresistível.

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A liberdade ainda maior está nas mãos de Arismar do Espírito Santo, que faz choro de guitarra (teste cardíaco para os irredutíveis) em Papo de Curió e Coleirinha, e no lirismo da pianista Léa Freire, com Sem Dó Nem Piedade.

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A encrenca fica maior com Vaqueiro dos Mourões, do bandolinista Fábio Peron. Ele tem um fraseado longo e rápido. E traz um comportamento ao choro que talvez falte para a formação de novas plateias. Sua música sacrifica a sutileza para ganhar pressão o tempo todo, fica nos limites da emoção para se comunicar à base do tratamento de choque. Se é ruim? Absolutamente. Seu bandolim é um cavalo selvagem. 

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