"Palco" recupera sobras de Gil

"Todo refino tem a borra", diz o cantor, que está lançando uma caixa com 28 CDs, entre eles compilações de sobras de estúdio

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Por Agencia Estado
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Gilberto Gil é um artista que tem uma produção de impressionante regularidade, só comparável à de Roberto Carlos. "Praticamente um disco por ano, embora nem sempre tenha lançado disco anualmente", ele conta. Sem contar todas as suas atividades correlatas, sempre fundadas numa extrema generosidade. Na terça-feira, ele gravava o programa de Sandy & Júnior, na TV Globo. "São talentosos, dedicados, pessoas amabilíssimas", defende ele. "E vêm fazendo um trabalho consistente há muitos anos." O material lançado em CD até agora cobre toda a sua obra pregressa ou ficou faltando alguma coisa? Gilberto Gil - Eu tenho a impressão de que ainda faltam umas coisinhas do baú. Mas, curiosamente, quem pode falar sobre isso é o Marcelo Fróes (pesquisador e diretor musical da caixa Palco). Ele sabe melhor do que eu. A caixa traz dois discos com sobras de gravação. Em geral, pensa-se que sobras são materiais desprezados na edição por um ou outro problema, algum tipo de deficiência. Em geral, é mesmo. Nesse caso é também. São coisas desprezadas basicamente por inadequação ao roteiro final do disco, uma coisa que não se encaixava. Em geral, são coisas que não couberam na arte final, que foram insatisfatórias por um motivo ou outro. Por que recuperar as sobras? A idéia é essa mesma, é ir para os intestinos. Mostrar um pouco dos bastidores das gravações, colocar as curiosidades, o gerúndio - o conhecendo e o fazendo. Todo refino tem a borra. É um pouco isso. A perspectiva dessa caixa não é necessariamente mercadológica, não é algo feito para vender e ganhar dinheiro. É um pouco disponibilizar as coisas, para a pessoa entrar nos lugares de produção, nos ambientes, nos processos. Com o CD "Salvador - 1962-1963", vocês reeditaram o material da gravadora Jorge Santos, o seu primeiro começo como músico. Como artista, como você se sente quando ouve aquelas coisas? Acha algo muita remoto, muito distante daquilo em que você se tornou? De uma certa forma sim. Mas ali tem a alma, o embrião, também é importante para compreender o processo. Tem Eu Vim da Bahia, que é o embrião de tudo. São coisas marcantes, que sustentaram, deram o impulso. Aquele momento anuncia as coisas, no jeito de interpretar, de tocar, a performance violonística. Essa etapa foi sendo ampliada, substituída ao longo da carreira, mas vai estar sempre comigo, mesmo quando estiver velhinho, velhinho - isso se eu ficar velhinho. É como Caetano e Coração Vagabundo, que é também uma coisa remota dele, diferente de tudo que ele faz hoje, mas que vai estar sempre lá marcando a poética dele.

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