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Paixões de Liza

Diva do cinema e do show biz volta a SP para apresentar clássicos e canções românticas de seu álbum 'Confessions'

Por Ubiratan Brasil - O Estado de S. Paulo
Atualização:

A voz andou rateando, a silhueta sofreu uns dissabores, mas o carisma continua imbatível - Liza Minnelli volta a São Paulo para um show no dia 27, no Credicard Hall, na condição de estrela intocável. O motivo do retorno é apresentar as canções do CD Confessions, lançado em 2010 e que chega agora ao Brasil. Mas qualquer fã de carteirinha sabe que ela não vai se esquecer de seus grandes standards, como Cabaret e New York, New York, apresentados de forma particular, os braços em constante agito, a cabeça em movimentos teatrais e a voz sempre ofegante e carregada de emoção - a mesma que utiliza para conversar com o público, a quem só trata por ‘darling’. Na verdade, não só no palco - "Hello, darling!", saúda ela do outro lado da linha, em conversa por telefone com o Estado. "Não vejo a hora de voltar à minha segunda casa", arremata num gritinho, definindo sua paixão pelo Brasil. No caso de Liza, não se trata de conversa fiada, pois momentos importantes de sua vida estão relacionados a acontecimentos nacionais. Ela mesmo se lembra, por exemplo, de sua participação no documentário Dzi Croquetes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, sobre a famosa trupe de homens travestidos que tinha o escracho como bandeira. "Foi emocionante relembrar aqueles bons tempos", conta Liza, tiete assumida e cujo empurrão foi fundamental para o sucesso internacional do grupo. Aos 66 anos, a filha de Judy Garland e Vincente Minnelli promete um show diferente do último realizado no Brasil, em 2009. É que agora ela está ansiosa para mostrar seu romantismo em canções de Confessions, como All the Way e This Heart of Mine. "Você não vai acreditar, darling, escolhi essas músicas enquanto me recuperava de uma contusão no joelho", tricota ela, em plena intimidade. "Meu médico me obrigou a ficar cinco semanas na cama. Cinco semanas! Como eu não suportava ficar parada - afinal, precisava gastar minha energia -, comecei a cantar." Na verdade, ela convocou um amigo muito próximo, o pianista Billy Stritch, para matar o tempo enquanto conversavam sobre as canções por que ambos são apaixonados. Dali saíram pérolas como I Got Lost in Arms, de Irving Berling, e You Fascinate me So, de Cy Coleman, entre outras. "Imagine a cena: eu com a perna pendurada e Billy tocando piano. Outro amigo veio me visitar, acompanhou uma sessão e nos aconselhou a gravar um disco. Foi o que fizemos." Notadamente intimista, Confessions é o primeiro álbum de estúdio gravado por Liza em 15 anos, desde Gently, cuja sonoridade é voltada para o jazz - ela gravou ainda, em 2009, Liza at The Palace...!, que reúne músicas cantadas durante uma turnê. Tanta atividade soa como notícia animadora, pois afasta qualquer suspeita de problema de saúde, algo que se tornou constante a partir de 2000, quando uma doença cerebral viral quase a matou - na época, os médicos disseram que ela nunca mais faria um show novamente. Seria o golpe de misericórdia para uma artista que, filha de pais nobres na hierarquia do show biz, é sobrevivente das exigências emocionais e dos custos psíquicos de uma vida no palco. Mas Liza é como a fênix, uma diva, um ícone, que inspira até os talentos mais radicais como Lady Gaga - certa vez, a maluquinha que já se vestiu de carne deixou o camarim com a cara limpa para receber Liza, antes de um show. Quem acompanhou pôde presenciar uma chuva de elogios, em que pipocaram frases como "eu te amo" e "você sempre foi minha inspiração". Todas disparadas por apenas uma das ladies, a Gaga. Liza gargalha ao se lembrar da cena. "Ela foi muito gentil e o amor é recíproco", diz. "Ela canta muito, sabe o que está fazendo no palco e é humilde quando dá entrevistas. Gosto muito disso, eu realmente gosto dela." A música de fato bombeia seu sangue, pois Liza diz que não consegue ficar sem cantar. Não pode reunir alguns amigos que logo começa um minishow. "Gosto de estar ao lado de músicos, pois, como todo mundo está relaxado e sem as obrigações que existem quando se está diante do público, cantamos sem pressão." Acredite ou não, mas ela garante que, quando está só e não quer apenas cantar, também dança pelos corredores de casa. Liza vive, agora, um momento especial. Além dos shows, dos novos álbuns, da admiração de amigos, ela vem retomando, ainda que timidamente, seu espaço no cinema e na TV. Afinal, Liza sempre se considerou uma atriz que canta e não o inverso. Graças a esse talento, ganhou um Oscar pela brilhante atuação em Cabaret, o já clássico musical dirigido por Bob Fosse em 1972. O festejo pelos 40 anos do lançamento do filme fez com que Liza reencontrasse parte da equipe técnica e do elenco, como Joel Grey, brilhante como o mestre de cerimônias do cabaré. "Não posso acreditar que faz quase meio século que Bob me ensinou a dançar maravilhosamente bem. Darling, você percebe como algumas canções não perderam sua força crítica? Money, Money (que brinca com os benefícios e também os malefícios da riqueza), por exemplo, continua atualíssima." O cinema continua em seus planos, mesmo que sejam apenas aparições. Em 2010, Liza marcou presença no filme Sex and the City 2, no qual recriou ao seu estilo um sucesso de Beyoncé, Single Ladies (Put a Ring on it). E Liza não apenas cantou como também dançou. "Eu precisava participar com algo que tivesse a minha marca, então, pedi ao meu coreógrafo preferido, Ron Lewis, que se inspirasse na Beyoncé, mas que deixasse privilegiar o meu estilo. Não ficou divino?" Os fãs gritam "sim!" em coro universal, e esperam por novas aventuras cinematográficas. Ela desconversa, diz que tem planos e que estuda um papel que promete ser realmente bom. Ponto final. Palavra de Liza, que tem a sobrevivência no sangue. Liza com Z.

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