Pacote festeja 30 anos do selo que revitalizou o blues

Oito dos mais explosivos álbuns da Alligator Records chegam ao País, inaugurando a distribuição de seus títulos no mercado nacional

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Por Agencia Estado
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Há três décadas, os negros que faziam blues nos Estados Unidos eram vistos por seus compatriotas exatamente como são vistos por aqui as duplas de velhinhos caipiras tocadores de viola. Embora ninguém duvidasse que estava ali a semente da árvore que havia dado jazz e rock-and-roll ao mundo, poucas eram as portas em que os bluesmen batiam e eram atendidos. O curso da história mudou em 1972, quando um produtor chamado Bruce Iglauer decidiu tomar uma cerveja no barzinho Florence, em Chicago, justamente no dia em que se apresentava por lá um tal Hound Dog Taylor. Atordoado com o que ouvira, só sossegou ao abrir uma gravadora para lançar o primeiro disco de Hound Dog no mercado americano. O selo de Iglauer, Alligator Records, não ficou só nisso. Lançou Muddy Waters, Jonnhy Winter, Otis Rush, Junior Wells e, em 30 anos, tornou-se a maior casa da blues do mundo fora do universo das gravadoras multinacionais. Das 30 indicações que teve ao Grammy, venceu duas. Das vezes em que disputou o WC Handy Awards, maior premiação para o gênero nos EUA, venceu 57. Nesta semana, a gravadora nacional Caravelas colocou nas lojas um pacote com oito títulos dos mais explosivos da Alligator para festejar as três décadas da empresa e inaugurar a distribuição de seus títulos no País. A lista, em ordem de importância, inclui Albert Collins em Deluxe Edition; Luther Allison (duplo) em Live in Chicago; Charlie Musselwhite em In My Time; Hound Dog Taylor, ele mesmo, em Tribute; Coco Montoya em Suspicion; o trio Lonnie Brooks, Long John Hunter e Phillip Walker em Lone Star Shootout; The Holmes Brothers em Speaking in Toungues e Corey Harris em Greens from the Garden. Embora sejam despejados por aqui ao mesmo tempo, os discos serão vendidos separadamente. A vantagem é que, por chegarem via distribuidora nacional, não trazem os preços exorbitantes dos importados. Com exceção do duplo de Luther Allison, cada álbum custará em torno de R$ 20. Os menos famosos não trazem menor grau de importância. Coco Montoya, californiano de 51 anos, começou como baterista de Albert Collins. Em 80, foi recrutado para integrar os Bluesbreakears, do inglês John Mayall. Collins achou aquilo um desperdício e o incentivou a ir além e lançar seus próprios discos. Em 95, Montoya estreou com Gotta Mind to Travel. Mas o novo , de longe, é seu melhor trabalho. Eletrizante, segue a escola de Gary Moore ao equilibrar rock-and-roll e blues pesados com a mesma visceralidade. O tributo a Hound Dog Taylor, estranhamente um integrante da terceira divisão do blues nos Estados Unidos, tem uma carga explosiva que não consta em nenhum outro título do projeto. Para homenagear o guitarrista, morto vítima de câncer em 1975, vieram outros especialistas na técnica do slide guitar, efeito que lembra as sonoridades da guitarra havaiana. Vernon Reid (ex-Living Colour), Ronnie Earl e Luther Allison estão entre eles. Albert Collins teve seis discos lançados pela Alligator. Deluxe Edition compila em 13 temas destes trabalhos, como Ain´t Drunk, Too Tired e If me Love me Like you Say. Aqui a coisa fica mesmo feia. Respirar ouvindo-o destruir sua Telecaster é um grande desafio.

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