Pacote da Kuarup recupera a boa música caipira

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Por Agencia Estado
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Quando o irmão e parceiro por quase 40 anos Xavantinho morreu, no ano passado, desconfiou-se que Pena Branca abandonaria a música. Mas ele curtiu a dor, deu a volta por cima e gravou disco-solo. Semente Caipira é um dos três títulos de música de raiz que a Kuarup está levando às lojas. Três excelentes discos. Os outros são Alvorada Brasileira, de Renato Teixeira e Natan Marques, e Disco da Moda, de Rolando Boldrin. Aliás, de Rolando & Boldrin, que faz dupla consigo mesmo, este, por sinal, um relançamento - mas só existiu antes em elepê. Em Semente Caipira, Pena Branca segue a linha que havia traçado para a dupla com o irmão - procura na fonte, pesquisa, compõe, encomenda maxixes, modas de viola, cantigas, guarânias, rastapés, cateretês, folias, valsinhas, os ritmos do interior. É do bom Kapenga Ventura e Guga a música de abertura, Espera Eu Chegar: "Se você perguntar quem eu sou/ O meu canto é que vai responder". Então, segue respondendo, com composições próprias (a moda Casa Amarela), música da tradição oral (Marcolino, cantiga de tropeiro do Vale do Jequinhonha, adaptada por Frei Chico, com participação especial de Inezita Barroso), ou fazendo adaptação para os moldes da música caipira de originais da música popular urbana - Correnteza, de Tom Jobim e Luís Bonfá que, no fundo, é uma toada estilizada. Pena Branca desestilizou-a. Ficou lindo. O grupo que o acompanha é de primeiríssima: Gilvan de Oliveira, violões e violas; Isaías do Bandolim, Zé Gomes, violino, rabeca e viola de cocho; Dinho Nascimento, percussão, Paulo Tutini, contrabaixo, Toninho Carrasqueira, flauta, Oswaldinho do Acordeon. Alvorada - Renato Teixeira e Natan Marques trabalham juntos há 26 anos, mas nunca haviam feito um disco em que a titularidade fosse dividida, e isso acontece em Alvorada Brasileira. O repertório foi pinçado em discos antigos e às oito regravações juntaram-se quatro composições novas: duas parcerias de Renato e Natan, A Poeira É Ouro em Pó e Tá na Ponta da Língua; outra só de Renato, Rosana; por fim, Alvorada Brasileira que dá título ao disco e é do filho de Renato, Chico Teixeira. Os músicos multiplicam as mãos em vários instrumentos: violões de náilon, violas de 12, contrabaixo; os convidados acrescentam violinos (Cássio Poletto), acordeão (Oswaldinho), zabumba, tambores de folia, bongôs, cowbells, triângulos (Cléber Almeida). A alvorada de Renato e Natan parte da música caipira de fato, mas comporta tanto o rastapé Tá na Ponta da Língua quanto o bolero-bossa Rural, de Renato, ou uma adaptação de Meu Limão, Meu Limoeiro, de domínio público. Disco da Moda foi lançado em 1993 e ganhou o Prêmio Sharp de música regional daquele ano. Foi gravado, com platéia, em São Paulo, com acompanhamento de Adalto Santos (viola), Itapuã (violão), Gabriel (contrabaixo), Alejandro Ramiezes (violino), Raul Carezatto (percussão) e acordeão (Marinho). Em duas faixas, Boldrin acrescenta a viola na afinação denominada rio-abaixo. E seguem-se originais de Capitão Furtado, Alvarenga e Ranchinho (Moda dos Meses), Laureano (Moda da Pinga), Raul Torres (Moda da Mula Preta), Cornélio Pires e Arlindo Santana (Moda da Revolução), Severino Pelado (Moda do Lenço), além de outras de Boldrin. É bonito, divertido, inteligente - de quantos discos se pode dizer isso?

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