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Osesp retoma repertório operístico

Orquestra mostra em versão de concerto The Rake´s Progress, de Stravinski. E no Teatro São Pedro, será encenada a ópera inacabada L´Oca del Cairo, de Mozart

Por Agencia Estado
Atualização:

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) dá mais um passo, neste fim de semana, na busca pela evolução artística. Com a apresentação em versão de concerto de The Rake´s Progress ("A Carreira do Libertino"), ópera de Igor Stravinski, o grupo - que será regido por John Neschling - volta a ter a ópera como parte de seu repertório. Curiosamente, tendo em vista a programação operística da cidade nos últimos anos, esta não é a única opção para o público nesse gênero: no São Pedro, estréia, após apresentação no jardim da casa de Bea Esteve, L´Oca del Cairo, ópera inacaba de Mozart. Ao lado da Osesp, participam da produção o Coro Sinfônico da Osesp - regido por Naomi Munakata - e solistas nacionais e internacionais: os tenores Fernando Portari e Marcos Thadeu, o baixo Carlos Eduardo Marcos, a meio-soprano Luciana Bueno, a soprano Lynne Dawson, o barítono Phillip Joll e a contralto Hilary Summers. Segundo Neschling, a escolha de The Rake´s Progress é bastante adequada, seja pelo fato de ser este o momento em que se lembram os 30 anos da morte de Stravinski, seja pela qualidade da ópera. "Esta é, talvez, a única ópera neoclássica conseqüente do século 20, é uma obra dos anos 50, quando Stravinski estava no auge do trabalho neoclássico, na qual ele deixa transparecer sua maestria na técnica de composição, com momentos de humor irradiante e drama profundo, com a mesma facilidade com que Mozart construiu as Bodas ou Don Giovanni, por exemplo." A comparação com Mozart, em especial com Don Giovanni, aliás, é bastante freqüente quando se fala da ópera de Stravinski. No entanto, Neschling ressalta que há de tomar cuidado com esse tipo de analogia. "Efetivamente, existe um paralelismo entre o Don Giovanni e Rake´s Progress, mas mais ligado ao libreto e à forma do que com a música em si. A visão clássica do prólogo e do epílogo, a cena do desaparecimento de Nick Shadow, fazem lembrar a construção dramática de Don Giovanni, mas não acredito que vá muito além disso." De qualquer forma, para o maestro, fica claro que Stravinski era admirador de Mozart. E não só, mas também de outros compositores como Verdi, por exemplo, aos quais ele faz referências na partitura. "A presença de árias com cabaleta, a la Verdi, ou árias com repetição, a La Barroca, coros parados como na grande-ópera, são, na minha opinião, homenagens ao gênero e carregam toda a genialidade de Stravinski." Títulos não usuais - A qualidade da ópera de Stravinski não é, porém, o único motivo pelo qual foi escolhida The Rake´s Progress para a volta da Osesp à apresentação de óperas completas (este ano, já foram apresentados trechos de óperas de Verdi e Carlos Gomes). "Um dos critérios de escolha é a intenção de não apresentar obras líricas do repertório normalmente levado aos teatros de ópera, mas sim obras que dificilmente serão vistas em outros teatros brasileiros", explica Neschling. O maestro indica, também, que há uma série de vantagens para uma orquestra que se aventure pelo repertório operístico. "Podemos, assim, nos aproximar de um repertório orquestral rico e diversificado. Outro ponto é a necessidade da orquestra se exercitar no acompanhamento preciso de cantores e na adaptação dinâmica." Para se ter uma idéia do que pode vir por aí: no final do ano passado, quando anunciou a temporada deste ano, Neschling comunicou aos assinantes a respeito da intenção de iniciar, em 2002, a interpretação do Anel de Richard Wagner, ciclo de quatro óperas. Se de fato o fizer, porém, não será o único: já foi anunciada pelo governo do Amazonas que, a partir da edição do ano que vem, o Festival de Ópera de Manaus também inicia a série, com regência de Luis Fernando Malheiro e direção cênica de Aidan Lang. Junção - A outra atração do fim de semana é, na verdade, a junção de duas óperas de Mozart: L´Oca del Cairo e O Empresário. Mozart deixou apenas algumas cenas do primeiro ato de L´Oca, que ele não completou por achar o libreto um tanto absurdo, com situações inusitadas demais como a utilização de um ganso de Tróia em determinado momento. O diretor cênico André Heller, então, criou uma solução cênica para essa que é a primeira montagem da obra - em sua versão com recitativos - nas Américas: a uniu com O Empresário, que narra a vida atribulada de uma companhia de ópera em meio aos ensaios de uma produção encomendada por Salzburgo. Assim, as cenas de L´Oca são inseridas em O Empresário no momento em que a companhia está ensaiando. Apesar de não estar completa, o maestro Graham Griffiths - que rege um conjunto de músicos escolhidos em diversas orquestras - acredita que a música de L´Oca del Cairo é bastante interessante, de um período fértil do qual também saíram obras como Don Giovanni e As Bodas de Fígaro. "Há, inclusive, coincidência de temas e situações dramáticas, da mesma forma que a música lembra trechos dessas óperas." No elenco, nomes expressivos da cena operística brasileira como Pepes do Valle, Sandro Christopher, Edna d´Oliveira, Celinelena Ietto e Luciano Botelho. Dos Estados Unidos, estão a soprano Marnie Breckenridge e o tenor Dillon McCartney.

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