Osesp inicia homenagem a Beethoven nos seus 250 anos de nascimento

Orquestra fará parceria com Carnegie Hall e apresenta ‘Sinfonia nº 9’ em dezembro, em diálogo com escravidão

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Por João Luiz Sampaio
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A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) vai inaugurar em dezembro um projeto idealizado pelo Carnegie Hall, de Nova York, para marcar os 250 anos de Beethoven. Nele, nove orquestras de cinco continentes vão apresentar a  Sinfonia n.º 9 do compositor, todas sob regência de Marin Alsop, que nos concertos em São Paulo se despede oficialmente do posto de diretora musical e regente titular da Osesp.

Com concertos, Marin Alsopse despede do posto de regente titular da Osesp Foto: Amanda Perobelli/Estadão - 6/3/2018

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Segundo Marin Alsop, o objetivo é celebrar o ideal da Ode à Alegria, movimento final da sinfonia, interpretado por um coro e por quatro cantores solistas, que ela define como “a crença em nosso poder como seres humanos”. O projeto foi batizado de All Together – A Global Ode to Joy (Todos Juntos – Uma Ode à Alegria Global). E prevê que, em cada país onde haverá concertos, o texto da peça seja traduzido para a língua local – em São Paulo, a tradução do poema de Friedrich Schiller usado por Beethoven será do diretor artístico da Osesp, Arthur Nestrovski. 

Além disso, serão encomendadas obras a novos compositores que possam dialogar com a peça de Beethoven de acordo com as realidades locais. No caso brasileiro, a Osesp imaginou uma reflexão sobre o espírito iluminista que guiou Beethoven e sobre a escravidão no Brasil do século 19, retratada por Castro Alves no célebre poema Navio Negreiro.

“Beethoven e Schiller levam ao limite os ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, que inspiram o mundo democrático moderno. Não era esse o mundo em que eles viviam, tampouco o mundo por aqui, lembrando que o Brasil foi a última nação das Américas a abolir a escravidão. Para cá, mais do que para qualquer outra parte do continente americano, veio o maior número de africanos escravizados. Essa chaga está na raiz da sociedade brasileira”, diz Nestrovski. 

Segundo ele, por conta disso, “a Nona chegará na moldura de um anônimo canto de capoeira da Bahia, conhecido como Navio Negreiro, tramando conversas com um trecho de uma abertura de Paulo Costa Lima, Cabinda – Nós Somos Pretos”. “Conversa também com um adágio para cordas encomendado a Clarice Assad, que alude ao tema da canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso.”

Ao longo do ano, os alunos dos projetos educacionais da Osesp também terão aulas sobre Beethoven e sobre a escravidão. Além da orquestra brasileira, participam do projeto a Sinfônica de Baltimore (EUA), a Sinfônica da Nova Zelândia, a Sinfônica de Sydney (Austrália), a Sinfônica da Rádio de Viena (Áustria), a Filarmônica KwaZulu-Natal e a Filarmônica de Johannesburgo (África do Sul) e uma orquestra jovem arregimentada pelo Carnegie Hall.

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