Os melhores CDs eruditos do fim do milênio

Foram, pelo menos, nove os destaques da música clássica em lançamentos internacionais de 2000. Entre eles, Pierre Boulez, Marcelo Bratke e a contralto Kathleen Ferrier ao lado da Filarmônica de Viena

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Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar da crise no mercado fonográfico de música erudita em todo o mundo, 2000 conseguiu se mostrar um ano cheio de lançamentos internacionais de peso. O JT apresenta abaixo uma seleção dos mais interessantes álbuns que vieram a público no último ano do milênio. A velha canção - O disco mais comovente do ano é aquele que traz A Canção da Terra, de Mahler, no seu melhor registro até hoje. É aquele em que canta a divina contralto Kathleen Ferrier com a Filarmônica de Viena comandada pelo discípulo do compositor, Bruno Walter. Realizado em 1952 e contando com a presença eletrizante do tenor Julius Patzak, o CD da Decca chega remasterizado. Fôlego sinfônico - Aos 75 anos, o compositor, polemista e regente francês Pierre Boulez continua com invejável fôlego. Deu-nos um inflamado Assim Falou Zarathustra, de R.Strauss, e um tocante Ritos Fúnebres, de Mahler, diante da sonora Sinfônica de Chicago. Um disco impactante, memorável (selo Deutsche Grammophon). Requinte vocal - A soprano Veronique Gens, que virá neste ano cantar junto da Osesp, proporciona uma hora de puro encanto vocal com o seu disco dedicado à mélodie francese. Ao lado do pianista Roger Vignoles, ela cantou em Nuit d´Étoiles o que localizou de mais requintado nesse repertório (Virgin Classics). Maturidade ao piano - Com pouco mais de 20 anos, o pianista italiano Gianluca Cascioli é o mais "cabeça" dos artistas da sua geração. Toca como um deus e, mais, pensa profundamente tudo o que executa. A aula que deu a respeito das primeiras Variações que Beethoven destinou ao teclado soa com extraordinária lucidez (Deutsche Grammphon). Russo pós-moderno - Alfred Schnittke (1934-1998) foi o mais brilhante compositor nascido na Rússia depois de Shostakovich. Sua estética "poliestilística" e trágica é também um poderoso retrato de um conturbado fim de século. (K)ein Sommernachtstraum - (Nenh)um Sonho de uma Noite de Verão e Concerto para Violoncelo nº 2 foram bravamente defendidos pelo solista Alexander Ivashkin a Orquestra do Estado da Rússia e o regente Valeri Polyansky (Chados). Voto de silêncio - O músico alemão Karl Amadeus Hartmann (1905-1963) viveu a Segunda Guerra Mundial em seu próprio país. Na época, não publicou nenhuma partitura, como forma de protesto contra a barbárie nazista. Depois da guerra ganhou a admiração do público por suas obras trágicas e sentidas. Miserae e suas Sinfonia nº 1 e Sinfonia nº 6 saíram em belas versões da Filarmônica de Londres sob a direção de Leon Botstein, com a participação da mezzo-sopranoo Jard van Nes (selo Telarc). Heroínas de Verdi - Casada com o tenor Roberto Alagna, com quem freqüentemente faz par cantante, a soprano Angela Gheorghiu provou que tem muita luz própria em seu recital Verdi Heroines. Acompanhada de uma orquestra de Milão conduzida por Riccardo Chailly, ela se debruça sobre as mocinhas (como Gilda) e as mulheres maduras (como Aida) com seu belo timbre e profunda compreensão psicológica das personagens que aborda (selo Decca). Duo Mercosul - O paulista Marcelo Bratke e a portenha Marcela Ruggeri se reúnem para fazer uma homenagem ao compositor norte-americano Aaron Copland (1900-1990). Em The Open Prairie eles executam com clareza partituras originalmente pensadas para a orquestra, como El Salón México, Danzón Cubano e Billy the Kid. Gravuras em preto e branco feitas a partir de pinturas a óleo multicoloridas, o CD do selo Et´coetera encanta pela clareza da execução do par de pianistas. Nova força - A edulcorada Manon, de Massenet, perto da qual a Manon Lecaut de Puccini ganha ares de música de vanguarda, ganhou vida nova na interpretação de Renée Fleming. Dona de uma garganta privilegiada, da qual arranca timbres claros e fortes, ela emprestou uma nova dimensão à essa personagem que o tempo envelheceu. Pudera: nessa gravação da EMI a soprano trabalha sob as ordens vivas de Antonio Pappano, o regente de óperas mais adulado da atualidade.

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