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Orbit conecta música erudita a universo lounge

Por Agencia Estado
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Os puristas chamarão isso de heresia. Os tecnocratas, de diluição. Mas é o desafio da hora: o mais célebre recluso do mundo da produção de estúdio, o britânico moderno William Orbit, avançou sobre a música erudita e gravou clássicos do barroco, romântico e da vanguarda contemporânea de teclados e programação. O nome do problema é Pieces in a Modern Style (Warner). Peças orquestrais e camerísticas de Beethoven, Vivaldi, Ravel, Haendel, Mascagni, Satie, Barber e Gorécki ganham a inusitada interpretação de um homem só, um paradigma da modernidade eletrônica. Orbital remixou discos de Prince (Batdance, The Future e Electric Chair, de 1990), Sting (If you Love Somebody Set Them Free, de 1985), Peter Gabriel (Digging in the Dirt, de 1992, entre outros) e, mais recentemente, o festejado disco de britpop 13, do Blur. Mesmo trabalhando com artistas mais comerciais, como Madonna, Ricky Martin e All Saints, Orbit demonstra saber o que faz: por esses trabalhos, foi considerado o melhor produtor do ano 2000 pelo site Dancestar. Domina como poucos as técnicas modernas de estúdio, utilizando recursos como as batidas quebradas e fortes do drum´n´bass e as atmosferas da ambient music e os dubs e grooves da música dos clubes. Com Pieces in a Modern Style, o que prevalece é a vontade de conectar a música erudita com o universo de climas lounge, banalizados do mundo em que vivemos. Para quê?, indagará o leitor mais arguto. Não é só por curtição, creiam. Orbit consegue efeitos maravilhosos ao comparar L´Inverno, de Antonio Vivaldi, com uma caixinha de música. Não é uma disposição nova a de Orbit. Recentemente, o grupo de drum´n´bass Mau utilizou uma orquestra em seus shows ao vivo e a cantora Björk cantou acompanhada de dois violinos e um violoncelo. E a recíproca também é verdadeira: o sexteto de cordas Instrumental fez arranjos de músicas dance como peças eruditas. A novidade está na disposição de Orbit em testar os limites e as possibilidades da música eletrônica fora de seu ambiente tradicional. Ele escolhe, de propósito, peças de várias épocas da música erudita. Desloca e relê sem preconceito. Usa um violão flamenco em In a Landscape, do minimalista John Cage. Desconstrói gradativamente o Triple Concerto de Beethoven, que entra na era das distorções eletrônicas e ganha um big beat de arrebentar caixa de som. Orbit certamente não será conhecido por evitar o confronto. Pieces in a Modern Style - CD de William Orbit. WEA. Preço médio: R$ 18,00.

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