Ópera de Berlim reforça segurança para produção polêmica

Idomeneo, de Mozart, após ameaças, volta ao cartaz na Deutsche Oper

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O público da Deutsche Oper, de Berlim, foi recebido na segunda-feira por detectores de metal, policiais e pela mídia para um espetáculo que havia sido cancelado por temores de que muçulmanos se ofendessem com uma cena em que é apresentada cortada a cabeça do profeta Maomé. Autoridades advertiram que a cena em Idomeneo, de Mozart, que inclui também cabeças decepadas de Jesus, Buda e Poseidon, poderia provocar represálias violentas, apesar de grupos muçulmanos terem minimizado as preocupações. Um porta-voz da polícia de Berlim disse depois da apresentação de segunda-feira que não foram registrados incidentes. Houve uma reação mista em relação à cena polêmica, que dura pouco mais de um minuto, no final da ópera, depois que termina a música. O rei Idomeneo entrou no palco com uma sacola manchada de sangue contendo as quatro cabeças. Ele as coloca sobre cadeiras e a de Maomé é a última. Quando ele apareceu, houve um grito de "Pare!". Outro membro da platéia gritou em seguida "Muito bem!" e surgiu um pouco de aplauso. Diversas pessoas vaiaram e ouviram gritos de "Bravo!" como resposta, seguidos por fortes aplausos para os cantores e músicos no final. A diretora da Ópera, Kirsten Harms, disse que a reação do público à cena, destinada a simbolizar a libertação do povo, sem deuses ou ídolos, foi "muito civilizada". "Nesta noite, a arte esteve novamente à frente", afirmou ela à Reuters. "Espero que agora termine todo este furor na mídia." Ameaça de terrorismo A decisão da ópera alemã de cancelar a apresentação em setembro provocou críticas entre artistas e políticos, incluindo da chanceler (primeira-ministra), Angela Merkel. Ela afirmou que a Alemanha não pode curvar-se diante da ameaça de terrorismo. Diretores da produção saudaram a mudança de atitude. "Estou aqui para mandar um sinal de apoio à liberdade de valores e à tolerância de culturas", disse Maria Boehmer, representante do governo alemão para assuntos estrangeiros. Dezenas de jornalistas do mundo inteiro concentraram-se na frente do prédio antes da apresentação, em número maior do que o de policiais e manifestantes, que incluíam cristãos e simpatizantes da tolerância religiosa. Detectores de metal do mesmo tipo dos usados em aeroportos foram instalados na frente da entrada principal, operados por uma empresa particular. O ministro do Interior, Wolfgang Schaeuble, foi à apresentação de segunda-feira, acompanhado por membros de grupos muçulmanos da Alemanha, apesar de o Conselho Central Muçulmano não ter ido. "É parte do conceito de liberdade de opinião", afirmou à Reuters Aiman Mazyek, secretário-geral do conselho. Muitos dos 3,5 milhões de muçulmanos da Alemanha dizem que o caso da ópera prejudicou o debate sobre a integração à sociedade. A preocupação com o radicalismo islâmico na Europa vem crescendo e os muçulmanos da Alemanha reclamam da islamofobia, principalmente desde que a polícia prendeu dois libanesess suspeitos de tentativa de colocar bombas em trens no país, em julho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.