PUBLICIDADE

Omara Portuondo e Bethânia cantam unidas pelas mesmas raízes

Por MARIA PIA PALERMO
Atualização:

Uma longa espera resultou em "Omara Portuondo e Maria Bethânia", em CD e DVD, um encontro considerado merecido pela cubana e que ainda as levará juntas a palcos de todo o Brasil e do exterior. "Estou tão feliz de ter esta oportunidade que estava esperando desde 86, que acredito que já merecia", disse dona Omara, como é chamada por Bethânia a cantora cubana, que ficou internacionalmente famosa depois da participação no documentário "Buena Vista Social Club". Lado a lado, elas contaram à imprensa na quarta-feira como se conheceram e como afinaram a escolha das canções reunidas no álbum, que chega às lojas nesta quinta-feira. Bethânia o definiu como "suave, mas com suingue cubano e brasileiro". A cantora baiana contou que o ponto de partida para o repertório foi dado por Omara, que sugeriu fazer o disco baseado na música dos anos 1950 cubana e brasileira. "Eu acho que é um disco suave. Poderíamos ter feito um disco com as canções mais badaladas cubanas e brasileiras, mas quisemos fazer um disco com nossa assinatura, como o nosso sentimento naquele encontro", afirmou Bethânia a jornalistas no Rio de Janeiro. "Quando ela sugeriu os anos 50 eu adorei, porque eu pensei 'ela vai no bolero e eu vou na Dolores Duran, que é o nosso bolero chiquérrimo"', acrescentou. O álbum, gravado em 2007, abre com duas cantigas de ninar. "Lacho" (composta por Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda) é cantada por Omara, e depois vem Bethânia, com "Menino Grande" (Antonio Maria). Algumas das músicas que interpretam juntas são "Tal Vez" (Juan Formell), "Você" (Heckel Tavares e Nair Mesquita) e "Para Cantarle a Mi Amor" (Orlando de La Rosa). Harmoniosas e muito explícitas ao expressar admiração mútua, elas também falaram da raiz africana que une os dois países e seus trabalhos. "Temos muitas coisas em comum no que se refere à cultura, às raízes negras, africanas. Das mesmas partes da África que chegaram escravos a Cuba, também chegaram escravos aqui ao Brasil", disse Omara, uma das maiores intérpretes da música cubana. SAÍDA DE FIDEL Apesar de ter pisado na ilha uma só vez, em 1986, quando foi vista por Omara da platéia, Maria Bethânia lembra que sua ligação com a música cubana vem desde menina. O impacto de Omara ao ver Bethânia entrar em cena no festival de música de Varadero é contado hoje com muito riso pelas duas. Omara lembra que ficou impressionada quando viu a brasileira pisar no palco e, rindo, disse: "Nesse momento, pensei 'que vontade tenho de cantar com ela', uma mulher dinâmica com uma voz maravilhosa." A explicação sobre a chegada de impacto veio em seguida de Bethânia: "Essa minha entrada foi um choque. Quando coloquei os pés (descalços) no chão levei um choque, que eu voei", contou rindo. Depois disso, o encontro das duas só se deu em 2005, quando a cubana esteve em turnê no Brasil. Nesse momento, começaram a pensar no projeto que hoje as coloca lado a lado no palco. O roteiro dos shows começa no Rio, dia 7 de março, depois passa por São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Brasília, entre outras cidades. Em junho, viajam à Argentina e ao Chile. Cuba, no entanto, ainda não está nos planos. À inevitável pergunta sobre as mudanças no poder em Cuba, Omara respondeu que estava no Brasil quando recebeu a notícia de renúncia de Fidel Castro, depois de 49 anos no poder. "Fiquei chocada, porque lembrei que ele está doente e pensei que era uma coisa pior", disse a cubana, sem esconder certa impaciência ao comentar que sempre lhe fazem essa mesma pergunta. "Mas depois, percebi que tem muita gente sábia que o assessora. E que com sua condição de saúde não deve estar nessa posição (de ser presidente)", acrescentou. "Mas a vida tem que seguir, essa foi a decisão que se tomou e nós acatamos", afirmou Omara, com seu inseparável sorriso.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.