Omara Portuondo, La Novia del Filin (A Namorada do Feeling), como muitos a conhecem em sua terra, Cuba, passou por São Paulo na semana passada para divulgar o CD Flor de Amor (World Circuit/Nonesuch). Ela volta à cidade em junho, no Dia dos Namorados, e faz uma miniturnê ainda por Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte. Única mulher no Buena Vista Social Club, a famosa agremiação de astros da música cubana, Omara está se fazendo acompanhar, além de sua fabulosa banda, por jovens músicos brasileiros, como Swami Jr., arranjador, produtor e contrabaixista. O produtor de algumas canções de Flor de Amor é o também brasileiro Alê Siqueira. E há uma canção de Carlinhos Brown, ou Carlitos Marrón, fechando o álbum: Casa Calor ("Não o conheço pessoalmente, mas o vi na Espanha, tocando nas ruas", conta ela). A artista falou por telefone com o repórter em Nova York, cidade onde esteve cantando pela primeira vez em 1951, tempos do famoso Tropicana cubano, onde ela começou a carreira. E aonde voltou nos anos 90, a bordo do Buena Vista, para cantar no Carnegie Hall, num show inspiradíssimo. Ela dividia os vocais com Compay Segundo em Veinte Años. "Muitos arranha-céus, muitos latinos, muitos americanos, muito de tudo", comentou, sobre a cidade. Aos 75 anos (idade é um assunto sobre o qual Omara não gosta de ser inquirida; "Serei eternamente jovem", brinca), Omara falou de como tudo começou. Nos anos 40, ela acompanhava a irmã mais velha, Haydée, no Tropicana. "Desde que nasci estou dando gritos", conta a cantora. "Meus pais se deram conta de que eu tinha habilidade para a música, apesar de não serem artistas." Filha de mãe espanhola, que a incentivou, ela se meteu com o pessoal da Trova (como Miguel Matamoros, e com aquele repertório de Ignácio Piñeiro, Rafael Zequeira e outros) e acabou virando a diva também da Nova Trova, quando esta surgiu. Ela lembra que foi enormemente influenciada por María Teresa Vera (1895-1965). "Quando era menina, sempre escutava seu programa no rádio. Depois, cheguei a trabalhar com ela. María Teresa, no final da vida, como não tinha família, foi parar num asilo. Eu ia visitá-la, mas me dava até vergonha dizer a ela quanto eu a admirava", conta. Como María Teresa, Omara tornou-se ela mesma um monumento da música afro-cubana, uma das últimas grandes de sua geração. Nos anos 90, o cubano Juan de Marco a convidou para integrar um elenco all stars de músicos, o Buena Vista Social Club, e Omara foi reapresentada ao mundo. Enche o palco com sua voz, embora se confesse "tímida". Recentemente, no Japão, cantou Summertime acompanhada de um time que reunia Michael Brecker, John Patitucci, Herbie Hancock e o fabuloso pianista cubano Robertito Fonseca. Flor de Amor, o disco de Omara que a traz ao Brasil, reúne toda aquela nata da música cubana, como o cantor Ibrahim Ferrer e o baixista Orlando Cachaito Lopez, além de Papi Oviedo (que toca tres, o violão cubano), Pío Levia e outros. O Brasil veio naturalmente, ela conta. "Gosto de todos: Chico Buarque, Gilberto Gil, Ary Barroso, Elis Regina. Todos estiveram em Cuba." O repertório é de rachar o sinteco do salão: ela abre com Tabú (Margarita Lecuona, Sidney King Russel e Al Stilman), passa por Mueve la Cintura Mulato (Alejandro Almenares), detém-se em Amorosa Guajira (Jorge González Allué) e corta o coração com Juramento (Miguel Matamoros), entre outras. "Entre as canções românticas e as que fazem bailar, prefiro todas. Gosto de cantar para que a pessoa sinta seu coração. Gosto da coisa romântica, mas também gosto do ritmo, gosto do mambo." Tem muita dor-de-cotovelo no disco, mas quando Omara ordena: Mueve la Cintura Mulato, ninguém desobedece. Até em Frankfurt, local onde ela esteve cantando recentemente, os alemães quebraram o protocolo e caíram na pista. Ouça algumas músicas do CD Flor de Amor Tabú (versão WMA) Tabú (versão RM) Mueve La Cintura Mulato (versão WMA) Mueve La Cintura Mulato (versão RM)