PUBLICIDADE

Obras inacabadas de Beethoven ganham espaço na Internet

Por Agencia Estado
Atualização:

Pneumonia, infecção intestinal, cirrose, depressão e até um envenenamento por chumbo, conforme análise de um punhado de fios de cabelo, estão entre as causas já invocadas para a morte do alemão Ludwig van Beethoven, em 1827. Morte que, de uma ou outra forma, interrompeu brutalmente os muitos projetos que o compositor, então com 57 anos, tocava: uma décima sinfonia, uma segunda ópera (além de Fidélio), réquiens, sonatas, etc. Coube então aos críticos, ao longo destes 173 anos, reconhecer em sua obra colossal o trigo, muito trigo, e o joio. Partiram do pressuposto, claro, de que há joio, mesmo em se tratando de Beethoven. E, neste caso, referem-se especialmente ao grande volume de trabalhos considerados inconclusos, mal revisados. Fragmentos. Parte deste material ganha agora registro inédito e abre espaço, aos poucos, em meio às muitas de suas composições já consagradas e amplamente reproduzidas. O trabalho é mérito de dois aficcionados por Beethoven, o americano Mark S. Zimmer e o holandês Albert Willem Holsbergen. Conheceram-se em 1997 numa sala de bata-papo dedicada ao compositor e decidiram vasculhar seu baú, decifrar e costurar suas anotações e tornar público o lado mais obscuro de sua obra, um material raro, pouco ou jamais executado, antes restrito a acadêmicos e colecionadores. Optaram por recriá-lo no computador, em arquivos MIDI, uma vez que não podiam contar com o apoio de uma orquestra inteira. De início, começaram a trabalhar em cima de um certo Quinteto para Cordas em Dó. Em um ano, haviam acumulado cerca de 100 peças. O projeto saiu então do papel e ganhou a web, onde eles mantêm o site www.Unheardbeethoven.Org, hoje contabilizando quase 200 mil visitantes. É lá que eles oferecem cerca de 230 arquivos MIDI, um total de 11 horas de música. "Nosso objetivo é fazer com que seu público possa decidir se o material é ou não válido de se ouvir", diz Zimmer, em entrevista por e-mail. Da web, a idéia vem ganhando as salas de concerto. No final de setembro, a dupla pôde assistir à estréia mundial de um dos frutos de sua pesquisa, a abertura da ópera Macbeth. Foram três concertos executados pela Orquestra Sinfônica Nacional, de Washington, regida por Leonard Slatkin. O resultado levantou o interesse de outros conjuntos, a Sinfônica de Winnipeg e a Orquestra da Bretanha, de acordo com Zimmer. "Claro, muitos críticos acharam que não é nosso papel levar adianta uma material que Beethoven não havia concluído", diz. "Mas achamos que sua composição pode se sustentar por conta própria." A ópera Macbeth é um bom exemplo do meticuloso e obsessivo método de trabalho, que obriga a dupla a investir numa igualmente meticulosa e obsessiva pesquisa, que hoje já conta com ajuda - e aprovação - de estudiosos. "Beethoven retomava cada frase de sua composição diversas vezes, até fazê-la perfeita", diz Zimmer. As primeiras anotações da ópera inspirada em peça de Shakespeare datam de 1808. Em 1810, o projeto foi retomado. No ano seguinte também. Até sua morte, Beethoven não chegou a apresentá-la. Zimmer e Willem trabalham com anotações espaçadas no tempo, a partir de cadernos e reproduções espalhadas em museus e bibliotecas. Para Zimmer, a bem-sucedida estréia de Macbeth pode dar maior credibilidade a seu trabalho: seu plano é conseguir dar início à reprodução das peças em CD.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.