Obra sintetiza fase neoclássica de Stravinski

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Por Agencia Estado
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Estreada no Teatro La Fenice de Veneza, em 11 de setembro de 1951, a ópera The Rake´s Progress ("A Carreira do Libertino") sintetiza as preocupações da fase neoclássica da obra de Igor Stravinski. Tendo visto, em maio de 1947, no museu de Chicago, a série de gravuras de 1735, em que William Hogarth narra a ascensão e queda de um libertino, Stravinski procurou W.H. Auden e encomendou-lhe o libreto. Embora o poeta inglês tenha creditado a co-autoria a seu companheiro, Chester Kallman, hoje se sabe que é apenas de Auden um dos melhores libretos da história da ópera, brilhante pela variedade rítmica de seus versos e a habilidade com que ele concentra as situações dramáticas, ao contar a história de Tom Rakewell. Ele herda uma fortuna e, tentado pelo demônio, Nick Shadow, abandona a namorada, Annie Trulove, e lança-se a uma vida de dissipação que o leva à miséria, à loucura e à internação no hospício de Bedlam. Corte barraco - É evidente a influência da Beggar´s Opera (1728), de Gay e Pepusch, sobre esse drama de corte barroco e a história contada por Hogarth adapta-se perfeitamente à música de Stravinski. Partindo da idéia de que o declínio de Tom se enraíza em sua recusa da Natureza - o amor de Anne e a vida serena no campo -, ele mostra, em tom alegórico, como o materialismo da Londres fantasmagórica pintada por Hogarth destrói as virtudes naturais: amor, fidelidade, vida em harmonia com os ritmos da Natureza. Alienado de suas raízes morais, Tom é presa de um niilismo desarvorado e perde a razão. A Carreira do Libertino usa uma orquestra de proporções clássicas, convenções formais, plano tonal e construção de períodos fiéis às tradições setecentistas. A forma como Stravinski trabalha com a prosódia - este é o primeiro texto importante que ele musicou em inglês - foi muito criticada. Mas o próprio Auden saiu em sua defesa, mostrando que as palavras, para ele, são elementos do ritmo e, para enriquecer o movimento musical ele não hesita em distorcer a acentuação tônica - como fez também nos textos que musicou em russo, francês ou latim. O selo Cetra possui a gravação ao vivo da estréia, no Fenice, de que participaram Elisabeth Schwarzkopf, Jennie Tourel, John Rounseville, Hugues Cuénod e Rafael Arié, sob a regência do compositor. Nem Auden nem Stravinski gostaram da encenação de Carl Ebert. The Rake´s Progress obteve, em sua primeira apresentação, acolhida apenas moderada; mas posteriormente viria a se transformar em um grande sucesso de palco.

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