Em 1959, o violonista e compositor Luiz Bonfá (1922-2001), um das sumidades do instrumento no Brasil, gravou um LP-solo para o mercado americano, interpretando 15 composições autorais - entre elas aquela que se tornaria seu maior clássico, Manhã de Carnaval, parceria com Antônio Maria - e duas releituras. Quase meio século depois, a obra-prima O Violão de Luiz Bonfá, chega ao CD, rebatizado de Solo in Rio 1959 (MCD) e com 16 bônus, entre takes alternativos de algumas faixas e gravações de outras nunca lançadas. O material original por si só é digno de consideração, mas diante da carência de títulos de Bonfá no mercado o valor aumenta. Em trechos das faixas finais ouve-se breves trocas de palavras do violonista com Emory Cook, o engenheiro de som que veio ao Rio gravar com ele. Integrante da primeira turma da bossa nova, Bonfá já era então, no auge do movimento, conhecido do público e elogiado pela crítica americana como um dos arquitetos do estilo, por seu virtuosismo, pela capacidade de improvisar com brilho, pela espontaneidade e por um estilo personalíssimo. Por tudo isso tornou-se um dos mais requisitados por cantores do calibre de Frank Sinatra, Sarah Vaughan e Elvis Presley. Num importante encarte de 30 páginas do CD, o também violonista, poeta, jornalista e escritor americano Anthony Weller - que tinha 2 anos quando o disco foi lançado - analisa faixa-a-faixa e traça um bom perfil de Bonfá. O texto contribui para o ouvinte leigo se situar melhor enquanto extrai puro prazer de ouvir Bonfá na intimidade de seu cristalino violão-solo em cores de bossa, jazz (como na ousada versão de Night and Day, de Cole Porter), calipso, baião (o belíssimo Pernambuco, que abre o disco), samba, marcha escocesa. Bonfá executa arranjos bastante engenhosos, mas faz seu fraseado fluir de modo que parece tudo muito simples. Coisa de gênio.