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Obra de Radamés Gnatalli chega à era digital

Centenas de partituras do maestro, compositor, pianista e professor estão sendo restauradas e digitalizadas para futura edição em CD-ROM

Por Agencia Estado
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Em sua grande maioria ainda manuscritas, a lápis, cerca de 280 partituras do maestro e compositor Radamés Gnatalli estão sendo restauradas e digitalizadas. O projeto, intitulado Brasiliana - Catálogo Digital Radamés Gnatalli, é conduzido pelo sobrinho do compositor, Roberto, e pela musicista Adriana Ballisté, com apoio de Nelly Gnatalli, viúva do autor, e vai custar R$ 280 mil. O maestro foi um dos mais representativos artistas brasileiros do século 20, seja como autor ou como impulsionador da carreira de outros compositores (Tom Jobim, por exemplo). "O projeto engloba, na verdade, três estágios. O primeiro consiste em escanear a partitura manuscrita, do modo como ela está, para preservar o material do modo como foi deixado pelo compositor. O segundo é a edição em MIDI, que cria uma nova versão, mais limpa e clara, da música e permite também escutá-la. Por fim, estão a catalogação de todas as obras e a criação de uma lista de referência de sua produção", explica Adriana, que vai apresentar os primeiros resultados do projeto no início de outubro durante a Infoimagem, feira em São Paulo dedicada ao gerenciamento eletrônico de documentação. Todo o projeto deve ficar pronto no início de 2004, quando o material editado em CD-ROM será distribuído a cerca de 3 mil escolas e bibliotecas espalhadas pelo País. Compositor, arranjador, pianista, regente, professor, Gnatalli nasceu em Porto Alegre em 1906 e morreu no Rio, cidade onde viveu grande parte de sua vida, em 1988. Deixou um vasto catálogo de obras, mas não se sabe o quanto dele ainda não conhecemos. Estima-se, porém, a presença de cerca de 300 obras, sem falar nos inúmeros arranjos (chegava a escrever sete por dia, contam os amigos mais próximos) que fez como regente contratado de emissoras como a Rádio Nacional, a Excelsior e mais tarde a TV Globo. Foi a seu pedido, por exemplo, que Tom Jobim escreveu Lenda, uma de suas primeiras peças, para ser interpretada na Rádio Nacional. Jobim foi um dos músicos que sempre reconheceu a influência que o maestro Gnatalli teve em sua obra e, no mais, engrossa uma lista de outros artistas da MPB como Raphael Rabello, Chiquinho do Acordeom, Jacó do Bandolim, Ari Barroso e Orlando Silva, que conheceram e trabalharam com o compositor, autor também de trilhas para o cinema como a de Eles não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman. Essa relação com a música popular influenciou também sua produção, classificada como erudita, em especial os concertos para orquestra e instrumentos solistas, muitos deles, como o escrito para marimba, descobertos agora pelos pesquisadores. "A descoberta de obras, guardadas em sua casa, e o resgate de outras já conhecidas pode oferecer novas perspectivas a respeito da importância de Gnatalli no cenário musical da época, em especial no que diz respeito a seus caminhos estéticos ", diz Adriana.

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