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Obra 'Cartas Celestes', de Almeida Prado, tem sua primeira gravação

Pianista Aleyson Scopel grava as 18 peças do compositor brasileiro

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Nos anos 1970, o compositor Almeida Prado resolveu dirigir seu olhar para os céus. Procurando um caminho para a sua música, inspirou-se nas constelações e corpos celestes observadas no céu brasileiro para criar o ciclo Cartas Celestes. É um conjunto de dezoito peças; quinze delas para piano solo – que acabam de ser gravadas na íntegra pela primeira vez pelo pianista Aleyson Scopel.

Aleyson Scopel Foto: Scopel Dv

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O projeto teve início em 2009. Nos Estados Unidos, um colega de conservatório de Scopel mostrou a ele uma gravação das primeiras cartas, feita pelo pianista Fernando Lopes. Um ano depois, no Concurso Nelson Freire, tocou uma obra do autor, que o ouviu e resolveu escrever a Carta nº 15 especificamente para ele. O pianista, então, guardou a estreia da obra para uma ocasião especial, seu primeiro recital no Carnegie Hall, em Nova York, quando teve certeza da ideia de gravar o ciclo completo. Recém-lançado, o quarto e último CD do ciclo (Selo Grand Piano) traz as cartas nº 13, 16, 17 e 18. A última delas foi batizada de O Céu de Macunaíma e fala da Constelação do Índio, da Nebulosa da Coruja, do Sol, da Lua, e termina com o que o compositor chamou de Constelação da Ursa Maior – Macunaíma.

A referência ao personagem de Mário de Andrade é importante. No início de sua carreira, Almeida Prado esteve muito ligado ao nacionalismo defendido por Camargo Guarnieri e, antes dele, por Mário de Andrade. No final dos anos 1960, no entanto, ele parte para a Europa, onde a vanguarda vai lhe fazer a cabeça, em especial Olivier Messiaen. Não se trata, no entanto, da substituição de um credo por outro.

“Gravar o ciclo me ajudou a compreender melhor a linguagem do compositor e sua evolução pessoal, uma vez que as Cartas foram compostas durante vários períodos de sua vida, da volta da Europa até poucos meses antes de sua morte”, explica Scopel.  Há nelas, portanto, uma síntese pessoal de diversos caminhos pelos quais o autor trilhos, que foram sendo depurados com o passar do tempo.

“Fiz uma imersão no mundo de cores e fantasia de Almeida Prado. Foi um grande desafio e também uma tarefa que me trouxe muito crescimento como pianista, pois descobri novas abordagens do piano que eram impensáveis”, explica o pianista. Scopel tem feito importante carreira como concertista Brasil afora, se apresentando com orquestras importantes. Almeida Prado o conquistou. Ele já fala em projetos como a gravação das sonatas para piano do autor ou de suas obras para piano e orquestra, como Aurora e o Concerto.

Ao mesmo tempo, prepara-se para, em 2019, tocar todas as sonatas para violino e piano de Beethoven com a violinista Gabriela Queiroz, com quem pretende gravá-las.

“Entender o modus operandi de compositores como Beethoven e Chopin é essencial para compreender a escrita de um compositor tão multifacetado como Almeida Prado, que foi, antes de tudo, um exímio pianista, e que confessava ter em sua música influências das mais diversas, desde Chopin até Villa-Lobos”, explica.

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