Oboísta garante o Grammy para o Brasil

Nem Gil, nem Milton. O único músico nacional que faturou um gramofone de ouro na última edição do prêmio foi o gaúcho Alex Klein, que venceu na categoria melhor performance instrumental solo. Aos 37 anos, Klein acumula uma série de prêmios internacionais

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Por Agencia Estado
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É verdade que para os brasileiros o Grammy não é uma final de Copa do Mundo. É um prêmio da indústria fonográfica americana que em muitos casos utiliza critérios estranhos e onde os músicos brasileiros são normalmente colocados naquela abrangente categoria inventada para tudo que não é feito nos Estados Unidos: a world music. Mesmo assim, na semana passada, havia uma torcida por Gilberto Gil e Milton Nascimento. Mas nenhum dos dois levou. Assim como Caetano Veloso, que participou de um disco da banda Los Super Seven. A cantora Luciana Souza e a pianista Eliane Elias ? também em categorias menos conhecidas ? não ganharam prêmios. Apenas um brasileiro foi premiado: o oboísta Alex Klein. Nome prestigiado nos círculos eruditos, o gaúcho de 37 anos recebeu o Grammy de melhor performance instrumental solo de 2001 por um trabalho feito em 1998. Integrante da Orquestra Sinfônica de Chicago, Klein participou do CD Concertos para Sopros de Strauss, uma iniciativa do selo alemão Teldec. Com um longo atraso, o registro foi lançado no ano passado, depois de a gravadora quase fechar as portas por problemas financeiros. Por essa gravação, Klein e seu oboé ? um instrumento de sopro feito de madeira ? foram lembrados na 44ª. edição do prêmio. Mas apesar de ter sido reconhecido por ter sido agraciado com o Oscar da música, Klein não se mostra deslumbrado. Há 17 anos radicado nos Estados Unidos, o músico foi várias vezes premiado no exterior. A primeira aos 21 anos, em apresentação no Carnegie Hall, de Nova York, quando ainda estava se adaptando à vida nos Estados Unidos. Depois disso, Klein ainda acumularia prêmios em Praga, Japão e Genebra. Com este último, em 1988, Klein quebrou um tabu: recebeu o primeiro lugar no Concurso Internacional de Execução Musical, posto que há mais de 30 anos não era ocupado por ninguém. "É esta a principal diferença que vejo nesses dois prêmios. O de Genebra era para o futuro, o tipo da premiação que aposta no músico. O Grammy é uma premiação do passado, que avalia apenas algo que você já fez, ainda que me sinta honrado por recebê-lo", comenta Klein de sua casa em Chicago. Da Cisjordânia para Curitiba - O oboísta sabe que, efetivamente, o único reflexo do Grammy em sua carreira pode ser levar seu nome a um público não muito próximo da música erudita. "O que espero com o prêmio é que ele ressalte projetos que estou fazendo, como a parceria com a Unesco", diz Klein. O músico se refere a um convênio de estudo musical firmado entre o instituto Bir Zeit, na Cisjordânia, e a Fundação Cultural de Curitiba. A relação com a capital paranaense se explica: Klein se mudou para Curitiba aos três anos de idade. No ano passado assumiu a direção da Oficina de Música da cidade, responsável pela formação de centenas de jovens. Assim como muitos desses garotos, foi em Curitiba que Klein iniciou seus estudos de música. Ele não apenas escolheu a carreira de músico erudito como ainda fez questão de aprender oboé. "Fui ainda menino conhecer uma orquestra e de longe apontei o oboé. Achei o instrumento especial, era único, não havia vários como os violinos ou violoncelos". Junto com a trompa, o oboé está entre os instrumentos de aprendizado mais difícil devido a seu bocal de palheta dupla. Vem daí, também, um dos problemas das orquestras: encontrar bons especialistas deste instrumento. Há sete anos Klein foi convidado pelo maestro argentino Daniel Barenboim para audições na Orquestra Sinfônica de Chicago. Fez cinco testes entre ensaios e concertos. Hoje, Klein não só é integrante da orquestra, como também conseguiu arregimentar Barenboim para trabalhar com ele no projeto da Oficina de Música.

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