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O underground que explodiu nas paradas

Há dez anos, o lançamento de Nevermind, do Nirvana, provocou o encontro inédito do alternativo com o mainstream. E tudo mudou. Por Rodrigo Brancatelli.

Por Agencia Estado
Atualização:

Quarenta e dois minutos bastaram para mudar todo o cenário musical. Há exatos 10 anos, em setembro de 1991, foi lançado o álbum Nevermind, do Nirvana, que tornou-se a melhor e mais importante gravação da década de 90, e o último grande disco feito na música pop. Foi como uma explosão sem precedentes para a indústria musical. Era a primeira vez que as duas vertentes que existiam após o punk - o alternativo e o mainstream - se cruzavam. Nunca uma banda desconhecida tinha vendido mais do que um astro pop como Michael Jackson. As rádios também nunca tinham visto algo parecido. Era como uma experiência de cientista maluco, que unia o pop dos anos 60, a descompostura do hard rock, o peso do metal e a atitude dos três acordes. Mas toda essa baboseira de crítico é dispensada no momento em que os 42 minutos do Nevermind começam a tocar. Dez anos se passaram, o Nirvana não existe mais desde que seu vocalista Kurt Cobain cometeu suicídio em 94, mas o culto à imagem e ao legado de Cobain continua. Para comemorar o aniversário do Nevermind, os integrantes remanescentes Krist Novoselic e Dave Grohl (hoje líder do Foo Fighters) planejam lançar uma caixa com 45 gravações inéditas da banda, como shows e demos. Entre elas, estaria a última música gravada pelo Nirvana, chamada You Know You´re Right. Isto é, se a viúva de Cobain, Courtney Love, deixar, pois ela está brigando nos tribunais para impedir que o carro-chefe da caixa de raridades seja lançado. A primeira batalha ela já ganhou. A música foi proibida de integrar a coletânea antes que o processo seja julgado. O advogado de Love disse que sua cliente estaria preocupada em resguardar o legado de Cobain. O que soa bastante irônico, já que a música foi tocada no acústico do Hole, a banda de Courtney. Ainda hoje, os efeitos do Nevermind podem ser sentidos. Não é por menos que o atual cenário musical é dominado por bandas que saíram do chamado "circuito alternativo". Para a história da música, existirá sempre um capítulo especial sobre as músicas e a genialidade de Cobain. Melhores amigos A biografia do Nirvana começa na cidade de Aberdeen, em Washington. Os melhores amigos Kurt Cobain e Krist Novoselic montaram a banda, em 86, sem ter um baterista fixo. Dois anos mais tarde eles assinaram com o selo Sub Pop para gravar seu primeiro single, Love Buzz, e o baterista Chad Channing ocupou o lugar de terceiro membro da banda. O disco de estréia, chamado Bleach, saiu em 89. O álbum foi gravado com apenas US$ 600, e soa exatamente como isso. O Nirvana não conseguia se diferenciar muito das bandas de Seattle que começavam a surgir. Logo depois do lançamento do disco, o baterista Dave Grohl foi convocado para substituir Channing nas baquetas. Ele foi chamado por Cobain graças a sua forte batida, e principalmente por saber fazer backing vocals. Bleach serviu para chamar a atenção do produtor Butch Vig, que gravou uma demo com seis músicas para mostrar às grandes gravadoras. A Geffen Records se interessou, e com um pagamento adiantado de US$ 287.000, o Nirvana gravou Nevermind. Segredos do Nevermind A idéia era chamar o álbum de Sheep, mas o nome Nevermind prevaleceu no final. Cobain queria que o disco soasse mais lento e mais pesado do que o Black Sabbath. Das 12 faixas do disco, 10 são hits indiscutíveis. Desde o hino Smell Like Teen Spirit, que tem um contagiante riff de guitarra emprestado da música More Than a Feeling, da banda Boston, até o violão de Something in The Way, é difícil pular alguma faixa. Essa energia e concisão do álbum fez com que ele vendesse mais de três milhões de cópias em um mês, e virasse símbolo de uma geração. Até a capa do disco, que trazia um bebê dentro de uma piscina, virou referência pop. Mas Cobain não conseguiu lidar com a imagem de ídolo do rock. Nem o casamento com Courtney Love, nem o nascimento de sua filha Frances Cobain fizeram com que ele largasse o consumo de heroína. Depois de três anos, mais dois álbuns (In Utero e Incesticide) e muitos shows, Cobain desistiu de lutar contra seus problemas. No dia 8 de abril de 94, seu corpo foi achado na garagem de sua casa com uma bala na cabeça, e uma nota de suicídio onde Cobain dizia se achar falso por não sentir mais prazer em cantar. Dois discos foram lançados depois do fim do Nirvana. O Unplugged in New York marcou para sempre a imagem de Kurt como um gênio. O setlist do acústico da MTV foi recheado com canções desconhecidas, e mostrou toda a sensibilidade de Cobain. O segunda homenagem póstuma foi a coletânea ao vivo From the Muddy Banks of Wishkah. Mesmo assim, Dave Grohl afirmou que ainda restam mais de 120 horas de gravações inéditas do Nirvana esperando para serem tiradas do limbo. É gravação suficiente para ensinar as futuras gerações como criar um som honesto e autêntico, sem dar a mínima para as tendências do mercado. Esse é o legado que Kurt Cobain e seu Nevermind deixaram para a história.

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