O rock pesado das "Priscillas" do Recife

O grupo Textículos de Mary, que se apresenta hoje em SP, vem da terra do mangue beat, mas tem um repertório completamente roqueiro combinado a um visual drag

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Por Agencia Estado
Atualização:

É do Recife mas não tem nada a ver com mangue beat. O grupo Textículos de Mary, que está lançando o álbum Cheque Girls com show hoje no Urbano, em São Paulo, faz rock-and-roll pesado e cru, sem misturas com maracatu ou embolada. As letras do grupo carregam no escracho e o figurino dos integrantes induz à conclusão de que a banda é formada por um esquadrão de drag queens armadas até os dentes - mas é quase tudo pose. Alguns músicos são homossexuais assumidos, mas não travestis. Já no quesito musical não há jogo de cena e o som seco do grupo bate como um tapa no ouvido. "Ao contrário do que alguns imaginam, Recife não é só tambor", avisa Chupeta, um dos vocalistas e compositor de 11 das 12 faixas de Cheque Girls. Ele explica que a banda nasceu em 1998, em plena febre mangue beat. "Como dizia minha avó, mente vazia é o laboratório do cão e eu sempre escrevi um monte de besteira", conta. "Quando minha mãe começou a namorar o Nado (percussionista), a gente começou a fazer arranjos para as músicas que eu tinha composto no violão." Essa é a versão oficial. No encarte de Cheque Girls, no entanto, a história da origem da banda é contada sob o ângulo da ficção. Essa versão sustenta que os Textículos surgiram por meio de uma reação química dos restos mortais de um homossexual conhecido como Mary. Nasceram, então, os travestis mutantes - personagens encarnados pelos integrantes do grupo. Dando corda para a linha fictícia, Chupeta explica que o Textículos de Mary já tem destino traçado, com a carreira dividida em três fases. "Estamos vivendo o primeiro momento, que é o de ascensão da banda. No segundo disco, o sucesso subirá às nossas cabeças e, no terceiro, a banda mergulhará na decadência. É a história de ascensão e queda do Textículos de Mary." Seguindo essa corrente de raciocínio, o grupo já teria data marcada para acabar, depois do lançamento do terceiro disco - fato que os integrantes não desmentem nem confirmam. "Ainda não sabemos se a banda continua depois do terceiro álbum, mas os personagens que criamos certamente continuarão", diz Chupeta. Entre os próximos projetos, está o lançamento de uma história em quadrinhos com os personagens, que tem roteiro de Chupeta. Curiosamente, os gays costumam torcer o nariz para os Textículo de Mary no Recife. "Acho que nenhum vampiro gosta de se ver no espelho", escracha Chupeta. Menos ácido, outro vocalista da banda, que atende pelo apelido de Lolypop, explica melhor a rixa. "Os gays do Recife curtem mais som de boate, que é basicamente música eletrônica. Nosso público é formado por jovens e skatistas que gostam de rock-and-roll." Produzido por Rafael Ramos - que já produziu desde Mamonas Assassinas até João Donato, passando por Ritchie -, Cheque Girls conseguiu filtrar em disco o mesmo impacto que os Textículos provocam ao vivo. "O Rafael pegou o espírito da coisa e a gente conseguiu reproduzir emocionalmente o que rola nos shows." Ainda desconhecidos em São Paulo, os músicos não sabem como será a reação do público paulista frente à performance nada convencional da banda. No Recife, onde já cultivam um público cativo, Chupeta e os demais Textículos costumam simular sexo oral com microfone - artifício que já foi censurado pela direção do Urbano para o show desta noite. "Se o público ficar muito chocado, a gente dá uma maneirada, não pega tão pesado", garante Chupeta. O show de hoje será o segundo da banda na cidade - o primeiro foi em 2001, na edição paulista do Abril Pro Rock. O show será atração principal da festa Porno For Fun, que terá ainda projeção de imagens pornoeróticas e discotecagem dos DJs Liberato e Animal. Textículos de Mary. Hoje, à meia-noite. Urbano (Rua Cardel Arcoverde 614, Pinheiros, tel: 3085-1001). Ingressos: R$ 10 (mulheres) a R$ 20 (homens).

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