"O REM não está à venda", diz Michael Stipe

Em entrevista ao Estado, o líder do grupo fala sobre seu novo álbum, Reveal, do cenário pop e da opção de nunca compor para vender produtos

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Por Agencia Estado
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Meia hora antes de falar com a reportagem do Estado, Michael Stipe estava ao telefone com um amigo na produtora Single Cell Pictures, tratando do futuro de um novo filme da companhia: o independente 13 Conversations about One Thing, estrelado por Matthew McConnaughey e Amy Irving. O produtor de filmes como Quero Ser John Malkovich e Velvet Goldmine também vem a ser o líder do REM, uma das maiores bandas do pop contemporâneo. Há duas semanas, o REM lançou o 13.º CD de sua carreira, o bem recebido Reveal, já disponível nas lojas brasileiras. Na sala de rádio do Museu de Televisão & Rádio, de Beverly Hills, onde no final da tarde de quarta participaria de uma recepção, Stipe deu a seguinte entrevista. Por que Reveal foi gravado em várias cidades, como, por exemplo, Vancouver e Dublin? Michael Stipe - Já tínhamos feito isso antes com outros trabalhos. Dessa vez, estávamos à procura de lugares para sermos reenergizados. Também, para o que estávamos dispostos a fazer, em termos de experimentação musical, os Estados Unidos não pareciam ser o lugar ideal. Fui para cidades onde havia maior diversidade de música na rua, no táxi ou mesmo em restaurantes. Você consegue se identificar dentro do cenário pop americano atual? Não muito. Eu o entendo, mas não me interessa muito. Não é frustrante competir com o pop teen e artistas como Britney Spears e Christina Aguillera? Gosto da Aguillera, apesar de seus penteados brega. Ela tem boa voz. Tem certas canções desse pop descartável, criado especialmente para as rádios e para um certo público, que eu acho boas. Veja, nada agora é muito diferente do que quando eu era jovem e escutava rádio. Muito do que está por aí é puro trabalho de marketing e talvez sem nenhum valor musical. Mas a gente canta junto quando toca no carro, não é? Apesar de excelentes críticas, as canções de "Reveal" não estão sendo executadas nas rádios, certo? Mas as rádios sempre foram assim. As pessoas falam de um tempo em que grandes músicos estavam no rádio. Fale-me quando foi isso, porque, durante minha existência, as rádios nunca refletiram a melhor música que é feita. O rádio tem Eminem, mas não P.J. Harvey, Björk e Natalie Merchant. Onde elas tocam? Quanto você vem se dedicando ao cinema ultimamente? Tenho produzido e feito filmes desde 1987. Minha dedicação é 100%. Tenho grandes parceiros em Nova York e Los Angeles. Procuramos por projetos e também recebemos muitos roteiros de gente familiarizada com meu gosto pessoal. De minha parte, tento ser um produtor criativo, ajudando na escalação de atores e em mudanças no roteiro. Como você avalia a participação do REM no Rock in Rio? Incrível. Eu fiquei absolutamente apaixonado pelo Rio. Ouvi minha vida todas as pessoas falando sobre o Rio. Mas ninguém conseguiu colocar em palavras a diferença que para mim ficou tão evidente entre o Rio e a maioria das cidades americanas. Na minha opinião, as pessoas sentem-se muito confortáveis em seus corpos como eu nunca vi nos Estados Unidos. No Rio, tive a sensação de que as pessoas vivem no presente e não - como nos Estados Unidos - ignorando elas mesmas no presente, olhando para o passado ou para o futuro. Por falar em sentir-se confortável com si próprio, você, há duas semanas, deu uma entrevista para a revista Time, na qual declarou sua homossexualidade e contou que está vivendo um grande relacionamento. (Risos). Eu saí do armário há cerca de oito anos. A entrevista que saiu na Time foi pega pelos tablóides ingleses e depois virou notícia ao redor do mundo. Na verdade, eu estava na capa da revista Out (especializada no público gay) há seis anos. Falo publicamente sobre minha sexualidade desde 1993. Para mim, foi um choque saber que isso é notícia em 2001. Estive na MTV falando sobre isso toda minha vida. É um pouco cínico que a Time tenha feito isso justamente na semana do lançamento de meu CD, logo após minha banda estar nos tablóides ingleses por causa do Peter Buck (que teve um ataque de fúria durante um vôo). Estamos vendo, atualmente, um lado triste da música. Artistas como Lenny Kravitz e Sting estão vendendo suas canções para comerciais de carros. O que você acha disso? Não vou comentar sobre nenhum desses artistas. Eles podem fazer o que quiserem. Honestamente, não me importo. De minha parte, só posso dizer que nossa banda nunca fará isso, pois foi algo que decidimos desde o começo. Oferta tivemos. Nossa música não foi criada para vender produtos. Adoramos ter nossa música em filmes ou outros meios criativos, mas não em comerciais. O REM não está à venda.

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