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O regresso dos alquimistas

A Tábua de Esmeralda, disco que levou ao front o suingue de Jorge Ben, é o próximo da lista do Estado

Por Roberto Nascimento
Atualização:

Nos meados dos anos 70, tintas místicas tingiram os trabalhos de alguns dos maiores nomes da MPB. Raulzito se inspirou no Baghavada Gita em Gita, de 74. Tim Maia abraçou as bizarrices da seita Universo em Desencanto no disco Tim Maia Racional, de 75. Lançado entre os dois, o não menos clássico A Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben incorporou as dimensões filosóficas da alquimia à genial batida de violão.

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O disco, que está sendo relançado pela Discoteca Estadão, foi fruto das leituras que Ben fizera de textos do faraó Hermes Trismegisto. Já de cara, na famosa Os Alquimistas Estão Chegando, Ben anuncia a vinda dos místicos embalado pelo "chacundum" (como foi batizado sua inimitável forma de interpretar o samba) de seu violão. Como nas mais marcantes interpretações de Ben, frases cotidianas que qualquer compositor jamais ousaria musicar ganham sentido musical inexplicável à medida que o cantor descreve o métier alquimista: "São pacientes, assíduos e perseverantes. Executam, segundo as regras herméticas, desde a trituração à fixação, à destilação e a coagulação".

"Ele tinha essa particularidade de pegar os textos, como ele fez com Xica da Silva, que era um briefing que o Cacá Diegues lhe mandou para que tivesse uma ideia da música que tinha que compor para o filme", conta Paulinho Tapajós, produtor de A Tábua. "E acho que funcionava porque ele tem uma alma infantil. É um crianção. Um cara super puro, espontâneo", completa.

Sob a batuta de Paulinho, as doze músicas que falam de alquimistas, como o próprio Trimegistro e Paracelso, se referem a São Tomás de Aquino e, logicamente, não deixam de lado a beleza da mulher brasileira.

Como força motriz das narrativas místicas, o disco tem o característico samba funkeado que hoje é conhecido como samba rock em São Paulo e sambalanço no Rio. Para acertar o tempero rítmico da cozinha, Paulinho aplicava uma série de manhas como gravar Ben de tamanco e fundir o som da madeira ao pulsar do surdo.

JORGE BEN

A TÁBUA DE ESMERALDA

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