O forró de Dominguinhos e Vicente Barreto

Os dois compositores estão com novos discos e fazem shows de lançamento em SP

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Por Agencia Estado
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Dois forrozeiros de fino corte e cepa nobre chegam à praça com discos novos para pôr ordem na festa - um pouco bagunçada pelo forró um tanto desbotado da turma da cidade que se encantou com o Nordeste mas pisa em falso na hora da dança. Nada de muito grave, mas é preciso que a zabumba soe nas mãos de quem nela manda. Um é Dominguinhos, pernambucano de Garanhuns, que lança amanhã, no Canto da Ema, o CD Chegando de Mansinho (Caravelas), comemorando, de quebra, os 52 anos de carreira brilhante. O outro é Vicente Barreto, baiano de Serrinha, que na sexta-feira, na mesma casa, apresenta o repertório de seu novo CD, Noite Sem Fim dos Forrós (Jam Music), um mergulho apaixonado no universo musical de seu primeiro tempo de vida. Herdeiro ungido pelo próprio do trono de Gonzaga, José Domingos de Morais só é diminutivo no nome - mas isso é carinho. Um dos músicos mais completos do País, passeia com serenidade por todos os gêneros de música - valsas e fados, tangos e boleros, sambas e bossas - mas é no forró que põe os pés em casa. Em Chegando de Mansinho, 56.º disco da carreira, conduz o ouvinte encantado pelas variações da música nordestina: arrasta-pé, xote, frevo, toada. Depois de tanto tempo e tantas glórias, Dominguinhos poderia fazer uma antologia de sucessos - vide Eu só Quero um Xodó, Gostoso Demais, De Volta pro Aconchego, Tenho Sede, Xote de Navegação (que, com letra de Chico Buarque, na verdade é um fado, que todos nós herdamos do sangue lusitano, etc.) Preferiu, entretanto, lançar dez inéditas e trazer para sua voz músicas que outros haviam cantado: Chegando de Mansinho (com Anastácia), que Nara Leão gravou; Preciso do Seu Amor (com João da Silva), registrada pelo Trio Virgulino. Pôs no repertório, ainda, composições alheias, como A Lavadeira, de Maciel Melo e Rogério Rangel; São Luiz e São João, homenagem ao seu descobridor Luiz Gonzaga; o xote Lisbela, de Caetano Veloso e José Almino, composto para o filme Lisbela e o Prisioneiro. Para lembrar: com a sanfoninha de oito baixos, presente do pai, menino de 6 para 7 anos, foi ouvido por Gonzaga. O grande Lua prometeu ajuda se o menino o procurasse, no Rio. Dominguinhos aceitou o convite e ganhou uma sanfona. No show de amanhã, Dominguinhos canta o repertório do disco e acrescenta sucessos seus (tem mais de 400 músicas gravadas, muitas com registros no exterior) e alheios - Asa Branca não poderia faltar, mais Xodó, De Volta pro Aconchego, Tenho Sede, Isso aqui Tá Bom demais e outras tantas, todas enriquecidas pela voz gorda, que sai da garganta privilegiada com a facilidade das coisas espontaneamente belas, a sanfona de virtuose - como acontecia com Gonzaga, a qualidade da composição é de tal ordem que nem todos se dão conta do instrumentista extraordinário que é Dominguinhos. Vicente Barreto beira os 30 anos de carreira e carrega uma quantidade de sucessos - principalmente em parceria com Alceu Valença, como Pelas Ruas Que Andei, Tropicana, ou Cara do Brasil, com Celso Viáfora, gravado por Ney Matogrosso. Veio para o Sul com o Quinteto Violado, estabeleceu-se em São Paulo, tornou-se parcerio (e amigo de estrada) de outro baiano genial, Tom Zé. Na hora de gravar o novo disco, Vicente percebeu que havia uma boa coleção de forrós que podiam ser alinhados e ainda alguns inéditos. Soube que, nas casas de forró universitário, suas músicas estavam fazendo sucesso. Juntou coisa com coisa e preparou o repertório de Noite sem Fim dos Forrós. Convocou o parceiro Celso Viáfora para completar a relação. Nasceram Um Xote com Você, Latinha de Cerveja e O Zabumbeiro. Resgatou parcerias - Tropicana, já mencionada, com Alceu Valença, parceiro também em Cabelo no Pente, incluída no roteiro do disco. Pôs na roda outro parceiro constante, Paulo César Pinheiro, para Chameguinho e Zelação. Baiano sério, não poderia deixar de fora Gordurinha e mostra como se canta Praça do Ferreira, parceria do grande músico com Nelinho. De Jackson do Pandeiro, pinçou o fabuloso Xote de Copacabana. Completou a relação com Tesoura de Ouro (letra de Carlos Pita) e Olho d´Água (em que o parceiro é Marcelo França). Vicente promove o lançamento do disco na sexta-feira, no mesmo Canto da Ema em que se apresenta amanhã Dominguinhos. Vai mostra as músicas do CD e fazer uma retrospectiva da carreria. O disco tem produção de Celso Fonseca e a participação de músicos de peso - o contrabaixista Arthur Maia, o sanfoneiro Cicinho, o zabumbeiro (que também vai de triângulo) Jorginho Gomes, o violão do produtor. Tem, sobretudo, a música do compositor que faz da qualidade profissão de fé e da beleza motivo de vida. O disco dele não é, como não é o de Dominguinhos, mais um trabalho de forró, na onda da festa armada pela indústria. É coisa de arrumar a casa e dar a quem se importe - e todos deviam se importar - as boas vindas ao mundo fascinante da festa nordestina. E quem puder que fique parado. Dominguinhos. Amanhã, às 22 horas. R$ 5,00 e R$ 8 00 (estudantes); e R$ 10,00 (mulher) e R$ 16,00 (homem); e Vicente Barreto. Sexta-feira, à meia-noite. R$ 10,00 (mulher) e R$ 15,00 (homem).Canto da Ema. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 364, tel. 3813-4708.

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