O encrenqueiro Eminem volta ao ataque

O novo CD do rapper americano, The Eminem Show, até inova nas batidas e nas rimas, mas estas só servem como vitrine para sua ira e preconceito

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Por Agencia Estado
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Ser processado pela mãe e ameaçado pela avó, agredir fãs, arrumar briga com meio mundo, humilhar a esposa, ser preso, incentivar a misoginia, a homofobia, a violência... A agenda do rapper americano Eminem devia estar muito tranqüila e entediante. Só assim para explicar os novos petardos do seu novo álbum, The Eminem Show, que chega hoje às lojas americanas para renovar o seu repertório de polêmicas e confusões. No Brasil, a gravadora Universal deve lançar o CD em duas semanas. O disco foi cercado por um sistema de segurança jamais visto na indústria fonográfica - tudo para impedir que alguma música vazasse pela Internet. Obviamente, foi em vão. Todas as 14 faixas do secretíssimo disco estavam disponíveis na rede desde a semana passada. Impecavelmente produzido, The Eminem Show não se sustenta apenas nos clichês do rap e inova com batidas e rimas surpreendentes. Mas a fila para se processar Eminem realmente vai aumentar. O encrenqueiro não mediu esforços para criar dezenas de novos desafetos. Trocando as batidas do hip hop pelas guitarras distorcidas, o CD começa com White America, onde Eminem fala que só se transformou em estrela da música porque é branco ("vamos fazer umas contas de matemática/ se eu fosse negro eu não teria vendido a metade"). Depois de enumerar todas as vantagens de ser branco, a música termina com Eminem atacando o discurso do governo dos EUA. "Agora eu sou o porta-voz da América branca", diz o rapper. "Eu cuspo na democracia da hipocrisia. Dane-se os Estados Unidos da Vergonha". A seguinte, Business, é uma união do funk com o kitsch - incluindo batidas do rap nova-iorquinho com samplers do tema do seriado do Batman. Imitando um apresentador de circo, Eminem dá início ao conceito de que o álbum é um grande show (daí o nome do disco). Provavelmente a canção mais pessoal de sua carreira, a terceira faixa Cleaning Out My Closet desafia os maiores inimigos do rapper. Com um piano de fundo, Eminem lembra do processo movido por sua mãe ("sua p... egoísta/ você ainda vai me pagar por tudo") e da briga com um amante da sua ex-mulher ("devia ter matado os dois"). Os insultos vão ficando cada vez mais ácidos. Na primeira música de trabalho, Without Me, Eminem xinga todo mundo - da mulher do vice-presidente dos EUA, o republicano Dick Cheney, a uma companhia aérea que tirou suas músicas da programação. "Sou a pior coisa desde o Elvis Presley", diz. "Como ele, eu uso a música negra para me promover e me dar bem." Uma das faixas mais curiosas é Hailie´s Song, dedicada à filha de 6 anos. Essa é a primeira música realmente cantada por Eminem. Originalmente, a canção continha um sample de While My Guitar Gently Weeps, de George Harrison, que foi vetado pela viúva do guitarrista A despedida fica por conta da ritmicamente complexa My Dad´s Gone Crazy, que mantém as inovações, as surpresas, os palavrões e as provocações do álbum.

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