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"O Brasil foi o primeiro lugar que procuramos", diz criador do Tomorrowland

Michiel Beers, em entrevista exclusiva, falou sobre os planos do maior festival de música eletrônica do mundo em terras brasileiras

Por Pedro Antunes
Atualização:

Michiel Beers entra na sala de escritório com um sorrido aberto, tipicamente belga, e pede um café preto, sem açúcar. O encontro, marcado em uma quinta-feira, poucas horas antes que o criador de Tomorrowland, maior festival de música eletrônica do mundo, voasse de volta para a Bélgica, encerrava as atividades de uma semana em São Paulo, para cuidar pessoalmente de detalhes da primeira versão brasileira do evento, a ser realizado entre os dias 1.º e 3 de maio, com os 180 mil ingressos disponíveis vendidos em três horas. “Esse tipo de visita é importante porque nos falamos por telefone, e-mail, Skype, mas não é a mesma coisa”, diz Beers, que fundou o Tomorrowland em 2005, ao lado do irmão Manu, e comemora o décimo ano expandindo ainda mais as fronteiras da “terra de conto de fadas” idealizada por eles primeiramente na cidade de Boom, na Bélgica. Em 2013, o festival passou a ser realizado em Chattahoochee Hill, no Estado norte-americano da Geórgia. Agora, é a vez de Itu, na fazenda Maeda, por onde já passaram outros eventos musicais como SWU e XXXperience. “Não estamos apenas emprestando o nosso nome, queremos que a experiência aqui em São Paulo seja completa”, diz ele. Confira mais da entrevista abaixo. 

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Vamos começar voltando pra 2005. Qual era a intenção de vocês ao criar um festival de música eletrônica como Tomorrowland? O que passava na cabeça de vocês? 

Eu e meu irmão sonhávamos com a ideia de recriar um mundo de conto de fadas, assim nasceu o Tomorrowland. Foi o começo de tudo, uma ideia de fazer um festival de conto de fadas. Não imaginávamos que chegaria a esse tamanho. 

Sair do próprio país é um empreendimento incomum, digamos. Acabou funcionando para o brasileiro Rock in Rio e para o Lollapalooza, que veio para a América Latina, mas a duras penas. Por que arriscar? 

A primeira coisa é: o festival ficou muito grande, mas não podemos passar do limite de 70 mil pessoas por dia. Desapontávamos um número de pessoas maior do que aquelas que haviam conseguido ingresso. A única opção era expandir. Quase diariamente recebemos convites de produtores que querem levá-lo para seus países.

Como foi a experiência desse primeiro ano fora de Boom? 

Fomos para Chattahoochee Hill, para o terreno de um belga que mora lá há 30 anos e estava feliz em trazer um pouco da Bélgica para os Estados Unidos. Era bom ter alguém com quem poderíamos nos comunicar na nossa própria língua Não vou dizer que a primeira edição foi fácil. Às vezes, as pessoas acham que fazer um festival em outro país é só levar o logo e seu nome, mas não. A ideia era ter a mesma qualidade de comida, decoração, montagem dos palcos, hospitalidade, serviço aos visitantes. Fazer tudo isso, em um ano, é muito difícil. Aprendemos muito. 

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Festival Tomorrowland, na Bélgica Foto: Divulgação

E por que decidir vir ao Brasil? 

Se analisarmos os dados das nossas redes sociais, o Brasil é o país de onde vem a maior parte dos fãs do festival. Era uma escolha óbvia. 

Mas por que a Fazenda Maeda? 

Achamos esse local. É claro, ela não era perfeita, mas estamos montando uma estrutura diferente de quando foram realizados outros festivais lá. Vamos montar o camping onde era a arena dos outros eventos e conseguimos a permissão para moldar um vale para que ele se tornasse o anfiteatro perfeito. Estamos fazendo um trabalho enorme e não será para apenas uma edição. Queremos ficar aqui por mais 15 anos. Não vamos conseguir tudo o que queríamos em um ano, mas vamos continuar no seguinte. O nosso sonho é que as pessoas não precisem ir à Bélgica para sentir que estão no Tomorrowland. 

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Já estive em outros festivais naquele mesmo lugar e houve reclamações quanto ao trânsito, à lama e aos problemas de infraestrutura no camping. Como resolver? 

Temos o nosso parceiro local que nos ajudará com esses detalhes. Na Bélgica, aprendemos a lidar com tantas pessoas indo e vindo. Para nós, o Tomorrowland começa quando você entra no seu carro, até deitar na cama, ao final do dia. Queremos ter certeza de que toda a experiência seja proveitosa, mesmo em caso de chuva.

O público, contudo, não viu problemas com isso e esgotou os 180 mil ingressos em três horas. O que significa estar sold out meses antes do evento? 

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Para nós, é surreal fazer um festival no Brasil, colocar os ingressos à venda e vendê-los assim. É um sonho. Estamos fazendo tudo para que todos possam ter uma experiência ótima. 

Há quanto tempo o Brasil estava no radar de vocês? 

Há quatro anos, na verdade. O Brasil foi o primeiro lugar em que procuramos terrenos, mas os Estados Unidos eram um lugar mais fácil para estrear. 

Em festivais grandes, no Brasil, existe uma preocupação constante com violência, furto e, principalmente, com o uso de drogas. Vocês estão preparados para o cenário no Brasil? 

Tudo é levado de forma muito séria. De qualquer forma, na Bélgica, temos um público de 204 nacionalidades diferentes. Quando as pessoas entram em Tomorrowland, é um mundo diferente, é tudo alegre. As nacionalidades se juntam, em um ambiente amigável e sem violência. De qualquer forma, temos uma parceria com o governo local e um plano completo para qualquer situação. 

O uso de drogas em festivais de música eletrônica, por vezes, estampa os noticiários, jovens morrem de overdose. Como controlar uma multidão e evitar um desastre como esse? 

Não vou dizer que isso não existe, mas, em dez anos na Bélgica, nunca tivemos grandes problemas. Repito: é uma união entre um bom público e um bom plano de ação. Tentamos fazer um evento positivo e não queremos que a droga seja o prêmio principal. Nos Estados Unidos outros eventos já tiveram esse tipo de problema. Nós, não. Então, estamos com os dedos cruzados para que seja assim no Brasil, aliando isso a um bom trabalho. 

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Veja abaixo a lista das atrações do festival Tomorrowland: 

 Foto: Divulgação
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