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O beijo bandido do irresistível Ney Matogrosso

Aos 69 anos, forma física e potência vocal do cantor ainda impressionam e conquistam

Por Marcio Claesen
Atualização:

Passavam apenas dez minutos das dez da noite - o horário marcado para o show - quando Ney Matogrosso subiu ao palco para cantar a dramática "Tango para Tereza". Com arranjo latino, letra sobre desamor e uma performance mais introspectiva, a canção daria o tom do que viria a seguir. "Beijo bandido" é bastante homogêneo, mas nem por isso pouco desafiador.

 

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O espetáculo, na estrada desde 2009, ganhou registro em DVD e um novo CD, "Beijo Bandido ao Vivo", lançado neste ano. Sob direção musical de Leandro Braga, que acompanha Ney ao piano, apenas mais três músicos completam o time: Lui Coimbra (cello e violão), Alexandre Casado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão).

O cantor faz pose antes de começar a segunda canção, "Da cor do pecado", os gritos de "gostoso" ecoam pela casa de shows. Se alguns parecem cênicos, outros soam genuínos.

 

Logo mais, após a intensa "Invento", Ney transforma um ato simples como tirar o paletó e arregaçar as mangas da camisa num minuto de tamanha sensualidade que muitos cantores jamais alcançam em uma vida inteira. Ele canta versos como "Vejo o tempo passar/O inverno chegou/E não vejo você". Talvez valha para ele, porque para nós, fica difícil ver a passagem do tempo nesse senhor que completa 70 anos em agosto. Sob um belo e justíssimo terno, o cantor exibe ótima forma.

 

Ney não se furta a interpretar músicas que se tornaram clássicos nas vozes de divas brasileiras. "Fascinação" - não parece impossível dissociá-la da voz de Elis? - ou "Doce de coco", famosa na interpretação de Elizeth Cardoso, se abrigam de forma tão natural em suas cordas vocais que parecem ter sido escritas para ele.

 

A despeito de seus figurinos exuberantes e performances catárticas serem lembradas e adoradas pelo público (e ninguém está dizendo que elas não podem voltar num próximo espetáculo), Ney consegue ser visceral mesmo mal saindo do lugar e mantendo seu terninho alinhado. Quem não sente um arrepio na espinha quando ele entoa versos como "Não tem coração que esqueça/Não tem ninguém que mereça/Cresça e desapareça" de "Bicho de Sete Cabeças" ou "Em minha casa assombrada/Vi coisas de vida e morte/E coisas de sal e nada" de "As ilhas"?

 

Após uma hora de show, o cantor volta para dois bis. No primeiro, canta "Incinero" com lâmpadas que descem do teto às suas costas, como se o palco ainda carecesse de mais iluminação além de sua presença. No segundo, após mais duas canções, ele encerra com "Fala", música de Luhli e João Ricardo, cujos versos traduzem o sentimento da plateia que sai embevecida pelo astro: "Eu não sei dizer/O que eu sei dizer/Então, eu escuto". E nós te escutamos, Ney.

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Set list:

"Tango para Tereza" (Jair Amorim e Evaldo Gouveia)

"Da cor do pecado" (Bororó)

"Fascinação" (F.D. Machetti e M. de Feraudy - versão Armando Louzada)

"Invento" (Vítor Ramil)

"De cigarro em cigarro" (Luiz Bonfá)

"A bela e a fera" (Chico Buarque e Edu Lobo)

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"A distância" (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

"A cor do desejo" (Ricardo Guima e Júnior Almeida)

"Nada por mim" (Herbert Vianna e Paula Toller)

"Segredo" (Herivelto Martins e Marino Pinto)

"Medo de amar" (Vinícius de Moraes)

"Bicho de sete cabeças II" (Geraldo Azevedo)

"As ilhas" (Astor Piazzolla e Geraldo Carneiro)

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Primeiro bis

"Incinero" (Zé Paulo Becker e Mauro Aguiar)

"Mulher sem razão" (Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto)

Segundo bis

"Poema dos olhos da amada" (Vinícius de Moraes e Paulo Soledade)

"Tema de amor de Gabriela" (Tom Jobim)

"Fala" (João Ricardo e Luhli)

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Serviço:

Ney Matogrosso

Sábado (19) às 22h e domingo (20) às 20h

HSBC Brasil - Rua Bragança Paulista, 1.281, Chácara Santo Antonio, São Paulo

Ingressos: de R$ 70 (setor 3) a R$ 160 (setor VIP)

Informações: 4003 1212

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