O Barroco na obra de um gênio esquecido

O Os músicos do Les Arts Florissants chegam ao Brasil para homenagear Charpentier, um dos grandes nomes do barroco francês. Ouça trechos

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Por Agencia Estado
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No barroco do Les Arts Florissants, há muito espaço para o jazz: uma combinação pregada pelo maestro William Christie, com quem o grupo realiza a turnê sul-americana que chega esta semana a São Paulo. O lobby de um hotel da capital uruguaia virou palco de uma jam session improvisada, com clássicos do rock americano da década de 50 até uma versão inspirada do I Got Rythm, de Gershwin. Poucas horas antes, aqueles mesmos músicos davam vida, no recém-inaugurado Teatro Solis, à música sacra de Charpentier, um dos grandes nomes do barroco francês. A turnê do grupo começou na semana passada, em Buenos Aires, com uma inspirada apresentação da ópera David e Jonathas, de Charpentier, no Teatro Colón. Seguiram-se Montevidéu, Santiago; na quinta-feira, é a vez do Rio. Em São Paulo, os concertos serão realizados na sexta-feira e no Sábado. Pilar de referência da interpretação da música barroca, o francês Les Arts Florissants é regido por seu maestro e criador, o franco-americano William Christie. Charpentier é uma das especialidades do grupo, cujo nome é emprestado do título de uma peça do compositor. "Não há dúvida: Charpentier tem um papel fundamental". Para ele, o compositor merece estar entre grandes, como Mozart e Haydn. O que, definitivamente, não é pouca coisa. Christie tem fama de durão com seus músicos. Mas já respondeu à provocação de modo simples: exige demais deles porque exige demais de si próprio. E, quando a gente olha para a sua trajetória, talvez tenha sido mesmo necessário. "Trazer este repertório de volta não é apenas uma curiosidade arqueológica ou algo do tipo. São grandes autores, que deram contribuições fundamentais para a história da música e podem, e devem, ser populares", ele diz, lembrando que não é por acaso que autores como o próprio Charpentier ou Lully e Rameau passaram a fazer parte do programa de concertos de jovens músicos. "Era esse o nosso propósito." Cantores - O brasileiro do conjunto, o tenor Bruno Henhold, conta que Christie é bastante exigente com seus músicos, durante as apresentações olha cada um no olho e tira deles a interpretação precisa que procura. Christie nivela por cima. E, mesmo para papéis menores, pinça do coro vozes privilegiadas, como a do baixo Bertrand Bontoux. Entre os tenores, destaque para Cyril Auvity, Paul Agnew e Jeffrey Thompson. Nas vozes mais graves, atenção em Alain Buet e Marc Muillon. E, por fim, uma revelação, de quem provavelmente ainda vamos ouvir muito: a soprano Maud Gnidzaz. Depois da América Latina, o grupo viaja para a China e ainda tem os Estados Unidos em sua agenda. Clique para ouvir trechos do CD Les Arts Florissants, Regência de William Christie. Selo: Harmonia Mundi Faixa 4 CD-1 Cena 3 do Prólogo: Retirez-vous affreux Tonnerre, Dominique Visse, contratenor - Disfarçado, Saul procura uma feiticeira para se consultar sobre a guerra contra os Filisteus. Na ária, ela consulta o Inferno, que, eventualmente, prevê a morte de Saul e seus filhos. Faixa 10 CD-1 Cena 3 do Primeiro Ato: Ciel! Quel Triste combat en ces lieux me rappelle?, Gérard Lesne, tenor - Após vencer Golias, David está de volta ao acampamentos dos Filisteus, do qual havia sido banido tempos antes. Agora celebrado, ele relembra a amizade de Jonathas, filho de Saul, com quem ele em breve deverá entrar em guerra. Faixa 17 CD-1 Chaconne, fim do Segundo Ato Faixa 9 CD-2 Cena 3 do Quarto Ato: A-t-on jamais souffert une plus rude peine, Monique Zanetti, soprano - Saul declara guerra aos Filisteus, incomodado com a amizade de Davi e Jonathas que, na ária, mostra-se em conflito: não quer lutar contra o próprio pai, mas também não lhe agrada a idéia de levantar armas contra o amigo. Faixa 18 CD-2 Cena 4 do Quinto Ato: Qu?on sauve Jonathas...allez..., Monique Zanetti, soprano, e Gérard Lesne, tenor - Saul perde a guerra e Jonathas é ferido. David procura pelo amigo e, neste dueto, o encontra, pouco antes de sua morte. Les Arts Florissants. Regência William Christie. Sala São Paulo (1.501 lugares). Praça Júlio Prestes, s/n.º, centro, 3337-5414, metrô Luz. Sexta e sábado, 21 horas. De R$ 130 a R$ 250. Patrocínio: Banco Safra, Bovespa, Telefonica, Votorantim. O repórter viajou a convite da Sociedade de Cultura Artística

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