Novos CDs trazem mix de John Lennon

Um Lennon pacifista, romântico, pop e experimental aparece tocando com Yoko Ohno, Elton John e Frank Zapp.  Ouça

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Por Agencia Estado
Atualização:

John Lennon é lembrado por seus manifestos pacifistas e sonhadores: Imagine, Happy Xmas (War Is Over), Give Peace a Chance. Nem precisa medir o nível de banalização a que estas canções foram submetidas nestas duas décadas e meia. Aí estão todas novamente reunidas na coletânea Working Class Hero - The Definitive Lennon, com dois CDs. A gravadora EMI também aproveita a efeméride dos 25 anos da morte do ex-Beatle para relançar Some Time in New York City (1972) e Walls and Bridges (1974), ambos com faixas-bônus. Compilações em geral não são muito bem-vindas. Porém, há casos em que uma delas, bem montada como esta de Lennon, basta. Em carreira-solo ele fez poucos álbuns dignos de figurarem entre clássicos como John Lennon/Plastic Ono Band (1970) e Imagine (1971), mas isto não importa tanto. Àqueles dois grandes álbuns se seguiram o bom Some Time in New York City e os fracos Mind Games (1973) e Walls and Bridges (1974). Na seqüência, Lennon voltou às bases roqueiras em Rock´n´Roll (1975), homenageando seus inspiradores, e teve a carreira rompida no momento em que dava sinais de cansaço da luta e se refugiava mais do que nunca no colo de Yoko Ono. Double Fantasy (1980) transborda romantismo meloso. Os primeiros, ao lado de Yoko, ainda na era Beatles, nem contam, principalmente porque quase ninguém conhece. Quando George Harrison lançou My Sweet Lord em 1971, ficou evidente sua semelhança com He´s so Fine, hit do girl group The Chiffons, de 1963, o que lhe rendeu processo e indenização por plágio, ainda que involuntário. É curioso que poucos tenham levantado as mesmas suspeitas em relação a Happy Xmas, de Lennon, já que é idêntica a Stewball, canção folk popularizada pelo trio Peter, Paul & Mary, também em 1963. Enfim a coletânea Working Class Hero tem faixas mais interessantes, como a que lhe dá título e talvez seja a melhor canção de protesto de Lennon. Já quase tudo o que teoricamente interessa de Walls and Bridges também está na compilação: o hit dançante Whatever Gets You Through the Night, que tem participação de Elton John no piano e nos vocais, Nobody Loves You (When You´re Down and Out) e a densa e bonita # 9 Dream. No mais, há boas curiosidades, como Old Dirt Road e a suingada What You Got, de notável influência soul. Lançado originalmente como álbum duplo, inclusive em CD, Some Time in New York City sai agora em versão simples. Engajado do começo ao fim (a capa é uma imitação irônica do jornal The New York Times), o álbum tem canções de letras contundentes, como a feminista Woman Is the Nigger of the World Angela (contra a prisão da ativista negra Angela Davis) e Sunday Bloody Sunday, sobre o massacre de civis ocorrido em 1972 na Irlanda do Norte (episódio que o U2 viria a abordar em canção com o mesmo nome no disco War, de 1983). Como desmembramento do tema, a histórica opressão dos ingleses sobre os irlandeses inspira a faixa seguinte, a bela The Luck of the Irish. A segunda parte do álbum (aqui em versão editada por Yoko, com duas faixas a menos) é mais experimental do que a primeira. São longas sessões de improvisos de Lennon com Frank Zappa, guitarras distorcidas e uivos pungentes da viúva. No lugar das duas que cortou, Yoko incluiu Listen the Snow Is Falling, que ela mesma compôs e canta, e sua parceria com o marido Happy Xmas.

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