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Norah Jones lidera parada americana

Por Agencia Estado
Atualização:

Demorou quase um ano, mas o disco de estréia de cantora Norah Jones, Come Away With Me, chegou ao primeiro lugar da parada da Billboard. O feito impressiona por conta da atual situação do mercado fonográfico americano, que valoriza barrigas expostas mais do que habilidade musical, e por se tratar de uma artista vinda do jazz. A cantora de 23 anos beneficia-se da vontade da imprensa americana de encontrar uma nova Alicia Keys para a temporada do Grammy, virando a mais badalada concorrente do prêmio deste ano. Filha do lendário músico indiano Ravi Shankar, que mudou a vida dos Beatles nos anos 60 e virou o ídolo de George Harrison, Jones nasceu em Nova York, mas foi criada pela mãe, no Texas. Por lá ela cantou em corais, estudou piano, ganhou prêmios pelos dotes vocais, participou de uma banda de rock e entrou para uma das mais conceituadas faculdades de música dos Estados Unidos. Uma viagem de férias a Nova York, em 1999, mudou o rumo da carreira da jovem cantora: fascinada pela cena musical de bairros como o Greenwich Village e o Lower East Side, ela resolveu ficar na cidade e adquirir experiência na prática. Jones tocou com vários músicos locais (ela integrou o Wax Poetic que tem um público fiel na cidade) e conseguiu formar o próprio grupo. Em 2000, foi contratada pela Blue Note Records, especializada em jazz, blues e seus derivados - e conhecida por valorizar a qualidade e não apenas o potencial de vendas de seus artistas. "O melhor da Blue Note é que você não precisa vender 1 milhão de discos para ser considerado bem-sucedido", disse Jones recentemente à BBC. Lançado em fevereiro de 2002, Come Away With Me (que já está disponível no mercado brasileiro há vários meses) foi bem recebido pela crítica, mas pouca gente previu que o álbum um dia chegasse ao topo da parada da Billboard. O hype em torno da cantora foi crescendo gradativamente: uma boa crítica ali, uma participação em um evento importante ali- Em outubro, ela foi parar na capa da edição de música da revista Vanity Fair Dois meses depois, participou do programa Saturday Night Live, conhecido por impulsionar as vendas no país. Há poucos dias, veio o empurrão final: cinco indicações para o Grammy, feito que a colocou ao lado de Eminem e Bruce Springsteen nas manchetes internacionais. Curiosamente, ela é a que mais vem se beneficiando com as indicações - justamente por conta da surpresa. Jones também concorre a três Brit Awards, o mais importante prêmio musical da Inglaterra. "Pensei que iria demorar pelo menos cinco anos para chegar a esse patamar", disse a cantora à imprensa inglesa há poucos dias. Um fator importante no conto-de-fadas de Jones é que o parentesco pode ter ajudado a abrir as portas da Blue Note, mas não chegou a fazer diferença para o público americano em si (que não deve saber quem é Shankar). E também o fato de que, ao contrário de Alicia Keys e India.Arie, ela não apostou em uma imagem estilizada, criada por produtores de moda. Jones conseguiu provar que um disco que mistura estilos não tem de incluir, necessariamente, elementos do hip hop para ser compreendido, e que uma cantora não-negra pode fazer sucesso nos Estados Unidos mesmo sem explorar a sexualidade. Também é a prova de que um selo fonográfico pequeno pode capitalizar mesmo dando liberdade para seus artistas. E que o Grammy, conhecido por apenas endossar produtos que já ganharam espaço no mercado, de vez em quando traz um pouco de justiça à música.

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