"Noel Rosa pela primeira vez", e para sempre

Caixa com 14 CDs organizada pelo biólogo paulistano Omar Jubran será lançada nesta quinta-feira

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Por Agencia Estado
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Noel Rosa escreveu, de 1928 a 1937, ano de sua morte prematura, 259 canções. Viveu pouco, produziu muito. Vários foram os destinos que o tempo reservou a esse material. Algumas músicas sequer foram gravadas. Em CD, cerca de 140 músicas estavam disponíveis ao público. Estavam. A Velas, em parceria com a Funarte, lança nesta quinta-feira, Noel Rosa Pela Primeira Vez, caixa com 14 CDs divididos em 7 volumes que reúne todas as músicas do sambista filósofo que foram, algum dia, gravadas. São 229 canções reunidas pelo biólogo pesquisador Omar Jubran, que levou 13 anos, dois deles apenas em diálogo com possíveis editoras, para dar cabo do trabalho. Nos tempos livres, entre os compromissos cotidianos, encontrou, recuperou e remasterizou tais obras. A caixa traz também um encarte de 160 páginas contendo letras, ano de gravação, ano de composição, curiosidades e histórias do poeta de Vila Isabel. O trabalho gráfico é de Elifas Andreato, que tomou como base as auto-caricaturas do compositor, feitas em 1937, época na qual Noel recolheu-se a Friburgo, cidade carioca, para tentar recuperar-se da tuberculose. Jubran, professor de biologia paulistano, 47 anos, paciente e obstinado, comemora o fato de poder dar ao público a possibilidade de conhecer a fundo a obra deste, que para ele, é o maior compositor brasileiro de todos os tempos. "Acho que o sambista da Vila surpreendente pela origem social, pelo volume da obra, pela intensidade". Material "quase" inédito - Muito do que consta na caixa é praticamente inédito. São interpretações tiradas de programas de rádio, discos raríssimos e até parcerias póstumas. Noel Rosa Pela Primeira Vez é um minucioso trabalho de história do Brasil que recupera músicas como Não Há Castigo, de Noel e Donga, que muitos acreditavam ser apenas lenda, e o samba póstumo Ao Meu Amigo Edgar, musicado pelo também finado João Nogueira. Um retrato do País que apenas começava a se modernizar com o popular governo de Getúlio Vargas. "Ainda bem que esse material passou para a posteridade", desabafa Jubran, que agradece o interesse da Velas, mas não se congratula, pois, para ele, fizeram o óbvio. A partir desse mergulho na vida de Noel, Jubran pôde formular inúmeras opiniões à respeito do compositor. Muitas delas diferem do que habitualmente é veiculado e dito como, por exemplo, a disputa com Wilson Batista. "Aquilo foi um dos primeiros golpes de marketing, descontando o tempo, da música brasileira. Eles iam fazer a cabeça do Wilson Batista, que era mais bobo, para que ele respondesse a provocações, que acredito eu, nunca existiram", diz. "É diferente de outros litígios que existiram como o embate entre Pixinguinha e Sinhô, esse sim, verdadeiro", completa. Confirma sua opinião citando Terra de Cego, samba composto por Noel e Wilson que pôs fim à discussão. "Noel fez a letra desta música porque gostava da harmonia mas achava a parte lírica muito ruim, somente por isso.", explica. "E o Wilson aceitou". Dever Cumprido - Folheando o encarte, Jubran mostra-se satisfeito. Sensação de dever cumprido. Por hora não acredita no que fez. "Acho que nunca mais faço um negócio desses", desabafa, aos sorrisos. Estão todos lá. Ismael Silva, Heitor dos Prazeres, Francisco Alves, Orlando Silva, Cartola, entre outros grandes nomes da música brasileira no período e de todos os tempos. Também Marília Baptista e Aracy de Almeida, que foram nos anos 30 e 40 as principais intérpretes de Noel. Omar acredita que o jovem compositor preferia a voz de Aracy. Outra opinião de Omar diz respeito ao número de canções compostas pelo poeta da Vila. "Tenho certeza que Noel doou muitos sambas", afirma. "Acho que sua obra teria um acréscimo de 50% se descobríssemos todas as suas parcerias. Por vezes eu lamento não ser músico para poder comparar as composições da época e reconhecer quais delas poderiam ser de Noel", comenta. O título da compilação surgiu, segundo o pesquisador, quase de forma aleatória. Na época dos tramites entre os empresários da Velas e do Ministério da Cultura, o nome Pela Primeira Vez foi mencionado. Pesaram em mudá-lo, mas Omar interveio e disse: "Pela Primeira Vez é um samba de Noel Rosa gravado por Orlando Silva. Pode ser esse mesmo o nome". E assim ficou. O preço do produto, faz questão de ressaltar Jubran, será definido pelos lojistas. "Se eles não forem prudentes e venderem a um preço acessível, logo encontraremos os discos à venda em algum saldão". Noel Pela Primeira Vez - Lançamento nesta quinta-feira, às 19h30, na Fnac (Av. Pedroso de Moraes, 858, Pinheiros). Telefone: (11) 3097-0022

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