Nóbrega leva "O Marco" ao Municipal

O Marco do Meio-Dia celebra um ano de apresentações pelo mundo e faz suas últimas sessões em SP. Para o artista, espetáculo sintetiza sua trajetória

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Por Agencia Estado
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Ele não tem medo de parecer um Dom Quixote radical lutando pela cultura popular brasileira. Antônio Nóbrega mantém as posições herdadas do movimento Armorial, criado pelo pernambucano Ariano Suassuna, em defesa das manifestações tradicionais nordestinas (Nóbrega tocou violino e rabeca no Quinteto Armorial nos anos 70). O cantador dá início hoje as três últimas apresentações de O Marco do Meio-Dia em São Paulo, em comemoração de um ano na estrada. O Marco - que estreou em Portugal e passou pela França e Alemanha - mostra uma visão utópica do País a partir da cultura popular. "O marco, também chamado castelo ou fortaleza, é uma construção poética dos cantadores em que o poeta erige uma determinada região, geralmente onde mora, mitificando-a pelo elogio das coisas do local", explica ele. O Marco do Meio-Dia conta a história não-oficial, vivida pelo povo, e retoma alguns movimentos sociais e seus líderes, como Antônio Conselheiro e Zumbi, além de figuras históricas advindas das camadas populares: Garrincha, Aleijadinho e Bispo do Rosário. O espetáculo será gravado e futuramente transmitido pela TV Cultura. Outra novidade é o lançamento de um DVD e uma nova edição ao vivo do CD homônimo. Nóbrega vê o espetáculo que reestréia hoje como uma síntese de sua trajetória. Tendo como base a literatura de cordel, ele dirige oito músicos (dois deles são seus filhos), cada qual tocando uma parafernália de instrumentos, e mais cinco atores, que dançam ao som de músicas nordestinas: polca, frevo, cavalo marinho, baião, maracatu, távola de crioula e caboclinhos. O trabalho do artista pernambucano não pára de mudar, desde sua chegada a São Paulo no início dos anos 80, mas não sua fidelidade ao Movimento Armorial e sua marcada posição contra a "contaminação externa". O caldeirão de Nóbrega é criterioso na seleção de ingredientes. Questionado se ritmos urbanos, como o rap, têm lugar em seu universo, devolve: "Não têm e nunca terão. Tenho uma visão muito cautelosa com tudo ligado à cultura de massa. Hoje o discurso dominante é ´vamos modernizar o regional´. Mas o diabo é que só faz isso por meio da cultura de massa americana". "Onde está escrito que essa é uma cultura de qualidade universal? E que temos que fazer a fusão com ela?", pergunta, exaltado. "Isso é falso, e contra isso eu me rebelo. É apenas uma cultura promovida pelo poder econômico e político dos Estados Unidos. A música americana se insinua em todo lugar como um filtro, espécie de patamar de qualidade. Precisamos destruir este falso conceito. E criar mecanismos para que as culturas regionais mostrem a sua riqueza." O Marco do Meio-Dia - Hoje e amanhã, 21 h; dom, 17 h. Municipal (Pça. Ramos de Azevedo, s/n.º, tel.: 222-8698). De R$ 5 a R$ 15. Patrocínio: Philips.

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