No TIM Festival, Charlie Haden em noite de puro jazz

Baixista arrasou no domingo, dividindo as cenas com o saxofonista Ernie Watts

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Por Agencia Estado
Atualização:

Haden fez o melhor show de domingo do TIM Festival, numa noite que tinha também o criativo trompetista Roy Hargrove e o aplicado pianista brasileiro André Mehmari. O baixista Haden teve de dividir as glórias com o saxofonista Ernie Watts, mas já está acostumado. Afinal, já foi companheiro de viagem de gênios como John Coltrane e Ornette Coleman. Foram de Watts os solos mais emocionantes da noite. O trompetista Hargrove, 36 anos, ainda é jovem para concorrer com os veteranos Ernie Watts, 61, e Charlie Haden, que completa 70 no próximo ano, mas está a caminho, seguindo sempre pela trilha de Clifford Brown (1930-1946), seu mentor espiritual que morreu com 26 anos, teve só quatro anos de carreira e hoje é seguido por todos os grandes trompetistas da geração de Hargrove, como Nicholas Payton. Entre outros jovens companheiros do quinteto, Roy Hargrove juntou-se ao sax alto de Justin Jay Robinson num diálogo contrapontístico rico em argumentos. Robinson respondeu pela terna apresentação do tema de Fools Rush In, seduzindo a platéia, o que deixou o percussionista Montez Coleman empolgado - além do limite audiométrico. O pianista Alan Broadbent, do Quarteto West, que acompanhou Haden, é mais experiente, embora tenha lá seu lado Erroll Garner. Discreto mesmo é o baterista Rodney Green com seu delicado toque West Coast a serviço da antológica interpretação de First Song, a popular composição de Haden, pelo saxofonista Ernie Watts. A apresentação do pianista brasileiro André Mehmari, na abertura, surpreendeu pouco, apesar da participação especial da cantora Ná Ozzetti, que apresentou pela primeira vez a versão de Luiz Tatit para o clássico Round Midnight, composta nos anos 1940 pelo pianista Thelonious Monk. Não é exatamente uma versão fiel à nostalgia do amante que lamenta a ausência da amada quando a noite cai, na canção original . Tatit adaptou a letra à desolada paisagem urbana de São Paulo numa noite chuvosa, tirando um pouco a força desse drama universal que se repete todos os dias. Mehmari é um virtuose, capaz de traduzir bem o espírito do Clube da esquina de Milton num medley em homenagem ao mineiro. No entanto, é marcado demais pela influência de Gismonti. Problemas de identidade, mas nada sério.

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