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No Brasil, até umbanda eles freqüentaram

Por Agencia Estado
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Ídolos, por definição aureliana, são aqueles a quem se tributa respeito ou afeto excessivo. Em matéria de rock-and-roll, eles parecem ser ainda mais adorados pelo fato de estarem quase sempre longe, de serem quase sempre inacessíveis. Quase. Não foi nem uma, nem duas as vezes em que os Stones se envolveram com fãs brasileiros. Por aqui, os roqueiros fizeram filmes, tocaram em estúdio, criaram músicas em fazenda, foram a terreiros de umbanda. Mick Jagger, em uma festança no bairro carioca de Santa Teresa, deu um passo a mais e deixou um filho no ventre da agora apresentadora Luciana Gimenez. Nem todos precisaram de tanta intimidade para se sentirem realizados. Ritchie, o cantor da música do ´abajour cor de carne´, fez uma ponta no filme ´Running out of Luck´, que Jagger filmou no Brasil, em 1984. Marku Ribas, músico mineiro ligado ao pessoal da black music, foi figurante no mesmo filme e acabou convidado por Jagger para fazer percussão na faixa ´Back to Zero´, do disco ´Dirty Work´. Arnaldo Brandão, fundador da Banda Brylho, de Cláudio Zoli, tem histórias para encher um livro. No fim de 1971, foi tentar o tudo ou nada na Inglaterra. No auge das experiências lisérgicas que os 20 anos lhe permitiam, acabou se tornando amigo do guitarrista Mick Taylor. Taylor levou Brandão e sua mulher para morarem com sua família em um castelo em Saint John´s Jerusalem, perto de Londres. "A casa era tão grande que, nos finais de semana, apareciam grupos de turistas para visitá-la", conta. Ele lembra que, desde que conheceu Taylor, ouviu sempre a mesma ladainha: "Cara, não agüento mais esta banda, vou sair." E Brandão respondia: "Não sai não cara, a banda é boa." Brandão passou a ser o confessionário de Taylor. "Não agüento mais esse Keith Richards. O cara usa a guitarra muito alta." Depois de um show, o guitarrista chegou com a mesma choradeira e o brasileiro devolveu: "Mas eu vi você indo ao amplificador aumentar a sua guitarra." E Taylor respondeu: "Que aumentar nada. Eu fui é cheirar uma carreira de cocaína." Nem todos os fãs precisam de tanto. Rita Lee, por exemplo, nunca teve um affair com Jagger. Reforçou recentemente seu amor aos Beatles ao lançar o álbum ´Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar´. Mas, sobre os Stones, não deixa por menos: "Eles são meus velhinhos transviados prediletos. Os Beatles foram os mocinhos pioneiros, os Stones são a vingança da bandidagem. Lennon esculhambava Jagger por não saber envelhecer dignamente e Jagger esculhambava Lennon por envelhecer indignamente junto com uma mulher feia como Yoko. Tapinha de amor não dói. Os Beatles acabaram e os Stones provaram que ´time was on their side´ (o tempo estava do lado deles). Quarenta anos de rock-and-roll é para pouquíssimos. Entre trocentas obras primas stonianas, a que ainda representa o resumo de minha biografia é ´Satisfaction´". Se pensa em fazer pelos Stones o mesmo que fez pelos Beatles, lhes dedicar um disco, eis a resposta: "Quem sabe eu parto para um ´Aquarela do Brasil 2´".

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