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Ney Matogrosso em nova parceria

Com o grupo Nó em Pingo D´Água o cantor gravou cinco músicas do repertório de Carmem Miranda, como Tico-Tico no Fubá que podem virar disco

Por Agencia Estado
Atualização:

Ney Matogrosso gravou com o grupo Nó em Pingo D´água, neste ano, cinco músicas do repertório de Carmem Miranda. Esse registro, que ganhou leitura contemporânea, ainda não é CD, mas pode vir a ser. "Não pretendo fazer um disco somente com músicas cantadas por Carmen Miranda, mas ter feito isso com o Nó acabou me dando uma idéia clara para o meu próximo trabalho", conta ele, em entrevista. "Esse repertório me despertou para uma música composta em uma época de mentalidade ingênua, nas décadas de 30 e 40." O encontro de Ney com o Nó em Pingo D´água - um grupo de instrumentistas e compositores cariocas de primeira escala formado por Celsinho Silva (pandeiro e percussão), Mário Sve (flauta e sax), Papito (baixo), Rodrigo Lessa (bandolim e violão de aço) e Rogério Souza (violão) -, ocorreu sem premeditações. Sve também fazia parte da banda Aquarela Carioca, que chegou a trabalhar com Ney durante dois anos e meio. Foi um período, segundo Sve, gratificante. O Nó, há cerca de três anos, costuma fazer shows convidando nomes interessantes da MPB no início do ano no Sesc Pompéia. O grupo levou Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, Moraes Moreira e Leila Pinheiro. Neste ano, "pintou a feliz oportunidade de chamar Ney". Para marcar o encontro, o intérprete optou pelo repertório de Carmem Miranda, com o qual já possuía identificação. "A gente revirou todos esses arranjos e a releitura ficou maravilhosa", afirma Sve. "Mesmo com músicas compostas nas décadas de 30 e 40, o resultado artístico é contemporâneo." Uma das leituras que exemplifica essa proposta é a de Tico-Tico no Fubá, um choro clássico de Zequinha de Abreu, que ganhou destaque em 1931. Ney informa que a versão provocará um susto. Segundo Sve, a música ganhou um andamento mais lento e a letra ingênua tomou um ar dramático. "Há até uma certo orientalismo na estrutura da música", conta. "O bacana é que se entende direitinho a história de Tico-Tico, as pessoas prestarão atenção." A leitura também ganhou um novo toque estético, pois o grupo não faz as vezes do Bando da Lua, conjunto que acompanhava Carmem Miranda. Ney adianta também que não sabe ainda se gravará esse trabalho inteiramente com o Nó. "Tenho uma banda e preciso pensar como será a funcionalidade disso no palco, já que eu e o Nó temos carreiras independentes", diz. Outro aspecto positivo da união temporária, segundo Sve é a maneira como Ney conduz sua carreira. "Ele é um cara certinho, profissional, gosta de ensaiar, de cumprir horários", declara o músico. "Ficamos uns dez dias envolvidos nesse registro e os arranjos foram elaborados em conjunto nesse período", conta. "O resultado ficou, além de democrático, muito orgânico." O samba Adeus Batucada, de Sinval Silva, a embolada Bambo do Bambu e Bamboleô Bambolea, um música que segundo Sve tem um refrão com forte apelo para dançar, e ainda Samba Rasgado são as canções gravadas. Sve sugeriu para o próximo disco do cantor composições de Jararaca e Ratinho e alguns sambas-de-roda de Clementina de Jesus. "Acho que ele está procurando uma letra ingênua, mas não necessariamente datada", acredita. Ney não costuma iniciar um trabalho a partir de um repertório de show, apesar de recentemente ter lançado Vivo, disco que resultou da turnê Olhos de Farol. No entanto, como ele adverte, nada foi preparado no encontro com o Nó em Pingo D´água. "Sem dúvida, quando se vai para a gravação de um disco está tudo mais maduro após ter testado o repertório num show", constata o cantor. "Posso afirmar que estou gostando dessa experiência com o Nó e me sentido estimulado com a não rigidez artística do grupo, que é conhecido por fazer um choro atípico, singular." O novo CD de Ney está previsto para o início do próximo ano. Já o Nó em Pingo D´água também tem planos para seu novo disco. O grupo pretende gravar um álbum apenas com composições autorais em parceria com o pianista e compositor Cristóvão Bastos. O desejo de realizar essa parceria existia há alguns anos, mas só se concretizou em junho, quando fizeram um show juntos. "É tudo uma questão de oportunidade e afinidade", diz Sve. "Queremos gravar apenas composições inéditas do grupo e de Cristóvão que, como nós, tem uma linguagem instrumental pessoal e não perdeu suas antenas com a música contemporânea, seja ou não brasileira." O Nó em Pingo D´água foi criado em 1979 e tem quatro álbuns lançados.

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