Nei Lopes traz show e livro a SP

O compositor, escritor e pesquisador da cultura afro-brasileira vem a São Paulo apresentar um retrato cultural dos subúrbios do Rio, através de sambas e do livro que lança no Sesc Vila Mariana

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Por Agencia Estado
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Nei Lopes canta amanhã e quarta-feira no Sesc Vila Mariana, em São Paulo,o que é uma ótima notícia. Mas não é só: Nei Lopes aproveita a oportunidade para lançar seu mais novo livro, Guimbaustrilho e Outros Mistérios Suburbanos - um passeio pelos trilhos dos trens dos subúrbios do Rio de Janeiro, com direito a paradas para considerações sobre a história de cada estação, as ruas dos bairros, sua geografia, seus prédios, hábitos e crenças, botequins, feiras, terreiros, mercados e os personagens famosos e desconhecidos que por ali fazem ou fizeram a vida. O nome do show é Samba da Gema. O roteiro tem 18 músicas (mas tem bis, tem bis), algumas só de Nei, outras feitas com seus diversos parceiros - Wilson Moreira, Almir Guinéto, João Nogueira, Guinga, Ruy Quaresma, Martinho da Vila, Maurício Tapajós, Cláudio Jorge. Preciosidades como Gostoso Veneno, Sandália Amarela, Tempo de Glória e Sapopemba e Maxambomba (com Wilson Moreira), Baile no Elite (com João Nogueira), No Fundo do Rio (com Guinga) ou só dele, Samba do Irajá e No Tempo do Dondon. Do pot-pourri previsto para o encerramento do espetáculo certamente constarão Senhora Liberdade, Goibada Cascão, Coisa da Antiga, Fidelidade Partidária. Nei vai ser acompanhando pelo Quinteto em Branco e Preto, com participação especial de Luizinho Sete Cordas. O cantor e compositor Nei Lopes é também escritor, com uma dezena de livros publicados, teatrólogo, advogado, historiador e pesquisador da cultura afro-brasileira (a área de estudo amplia-se para manifestações da cultura negra nas três Américas). Autor de dicionários, foi consultor para assuntos afro-brasileiros do Dicionário Houaiss e tem pronta, para lançamento, uma formidável Enciclopédia da Diáspora Africana. Guimbaustrilho e Outros Mistérios Suburbanos é uma publicação da Prefeitura do Rio e da Editora Dantes (dantes@plugue.com.br). É o segundo volume da Coleção Sebastião/Radiografica Carioca - o nome da série faz referência àquele Macaco Tião, do zoológico do Rio de Janeiro, que jogou terra nos olhos de um prefeito e quase foi eleito vereador. Foi lançado no Rio no fim do ano. O lançamento em São Paulo sofreu adiamentos e quase não se dá. Pois bem, Guimbaustrilho estará à venda no Sesc Vila Mariana e, promete a editora, a partir de então, em bancas de jornais e livrarias da cidade, ao preço de R$ 10,00. Encartado, vem um CD com três músicas de Nei que também (como a grande maioria de suas composições) falam dos subúrbios: Samba na Medida, O Vendedor de Ilusões e Justiça Gratuita, letras e músicas dele. São sambas extraídos do disco Sincopando o Breque (gravadora CPC-Umes, 1999). No ano seguinte, ele lançou Nei Lopes - De Letra e Música (gravadora Velas), reunindo alguns sucessos dos quase 30 anos de carreira e amigos e admiradores, gente que já gravou suas músicas - de Chico Buarque a Fátima Guedes, de Guinga a João Bosco, de Zeca Pagodinho à dupla Arlindo Cruz e Sombrinha, de Joyce ao MPB-4, de Dudu Nobre e Dona Ivone Lara ao Toque de Prima - falando de alguns. Os 30 anos de carreira estão sendo comemorados agora. Nei começou no disco-solo - mas no samba foi antes - em 1973, com Tem Gente Bamba na Roda de Samba. No ano anterior, Alcione havia gravado Figa na Guiné, parceria dele com Reginaldo Bessa. A parceria com Wilson Moreira veio em seguida e fez sua fama. Nei tornou-se um dos compositores mais originais da música popular brasileira e, desde o início, sua música trazia a característica de cantar o Rio em letras com formato de crônica e crítica de costumes. O foco esteve - está - sempre no subúrbio, onde se concentra a população negra e onde a reconhecida cultura musical carioca, bossa nova fora - o samba, o choro, a modinha seresteira e seus ancestrais -, surgiu e desenvolveu-se. Uma característica muito especial da música de Nei é o fato de que suas letras costumam falar de movimentos, deslocamentos - daqui para ali, de um morro para outro, começam num lugar e terminam em algum diferente (aliás, a Maxambomba do samba citado ali atrás era a localidade hoje chamada de Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense). Percorrem os trilhos que servem de rota para Guimbaustrilho, o livro. Na verdade, um livro-revista, com ampla documentação fotográfica e fruto de minucioso trabalho de pesquisa. Guimbaustrilho, de fato, conta a história da formação do Rio de Janeiro a partir do dia 29 de março de 1858, quando D. Pedro II inaugurou o primeiro trecho da Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II, depois Estrada de Ferro Central do Brasil. A minúcia da pesquisa chega ao leitor num texto extremamente rápido e bem-humorado (são mais de 200 páginas e dá vontade de que fossem muitas mais), e o coloquialismo, e alguma fantasia coloridora, não afetam a seriedade dos fatos e datas. Agora, quem ou o que seria Guimbaustrilho? O autor só responde à pergunda na última linha - e em poucas leituras é tão bom esperar para saber. Nei Lopes - Sesc Vila Mariana: Rua Pelotas, 141. Tel: 5080-3000. Terça e quarta, às 20 horas. R$ 2,50 (estudantes), R$ 3,50 e R$ 5.

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