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Negra Li, livre para a carreira-solo

Ela lança o primeiro CD, com faixa-título de autoria de Nando Reis, e diz que não quer estar necessariamente compromissada com um determinado gênero musical

Por Agencia Estado
Atualização:

Cantora, batalhadora e talentosa, aos 27 anos de idade, Negra Li está livre. Depois de segurar a onda vocal do coletivo de rap RZO (Rapaziada Zona Oeste) e de conquistar as glórias com o CD "Guerreiro, Guerreira" (primeiro CD, gravado ao lado de Helião), ela dá mais um passo e estréia carreira-solo com o disco "Negra Livre" (Universal). Não que Negra não tenha sido tentada antes a se lançar a esse caminho, com diversas propostas caindo em seu colo. O fato é que, naquele momento, ainda não se sentia pronta. A preparação veio justamente com o trabalho ao lado de Helião em "Guerreiro, Guerreira". Com o apoio do mano, Negra passou a se sentir dona da situação. "Com Helião, eu fazia shows grandes pra caramba, trocava idéia no palco com o público, fui me preparando", conta ela. O mesmo Helião lhe deu força para que ela seguisse em frente na carreira-solo. "Ele já sabia que era algo para ser feito." E como Negra Li gostaria de se mostrar neste primeiro trabalho? "Gosto muito de música romântica." Com o aval do produtor inglês Paul Ralphes, a diva do rap conseguiu emplacar algumas canções dessa estirpe. Por ela, seria um CD mais romântico e, nas letras mais engajadas, pegaria pesado. Mas Ralphes estava lá para contrabalançar as coisas. Há um pouco de tudo: a Negra Li contestadora, legado da vivência do rap; a Negra Li apaixonada; a Negra Li suingada. Enfim, a Negra Li pop. Da exata maneira que desejava. "Quero que alcance todo público, que seja para todos os gostos", sentencia. Ela quer legitimar seu talento de cantora acima de tudo, sem estar compromissada necessariamente com um determinado gênero musical. Negra até chegou a propor um disco só de bossa nova para a gravadora, claramente contaminada pelo curso de música que estava freqüentando na época. Foi desestimulada pela direção, que utilizou bons argumentos, não se pode negar: cantoras de MPB existem aos montes por aí; de rap, ela é uma das poucas representantes. Negra caiu na real e admite: "O hip hop sempre foi uma peça importante na minha vida, meu disco sempre vai ter rap." É bem provável que os manos mais ortodoxos torçam o nariz para este trabalho. Já o fizeram na época de "Guerreiro, Guerreira", lançado por uma mainstream, a mesma Universal. "É bobagem, eles têm de torcer pela gente. A gente representa o rap Mas se nem Cristo agradou todo mundo, eu, que não sou perfeita, também não vou." Mera coincidência ou não, "Negra Livre" já começa com a cantora mandando seu recado em "Ninguém Pode me Segurar", música dela e dos parceiros Marquinho "O Sócio", Marcello Red, Ralphes e Cutti. E fala logo de cara: "Ninguém pode me impedir de falar/Ninguém pode me impedir de fazer/Ninguém pode me impedir de ser." Na letra, ela mostra quem é e o que pensa Negra Li. Assim como em "Compaixão", parceria dela, Helião e Ralphes. "Eu escrevi a letra e o Helião mexeu nela, trouxe mais de mim." Preste atenção, pois há outras auto-referências ao longo do CD. Teria sido essa uma forma encontrada para dizer quem é a Negra Li? "Não, foi sem querer", garante ela. Não pode se dizer o mesmo da faixa-título, cunhada por Nando Reis especialmente para o CD. Ela conta que a gravadora havia ligado para Nando, para pedir a permissão de uso da canção "Eu Sei (Na Mira)", a partir da qual saiu "Você Vai Estar na Minha", de Lino Crizz. Vira e mexe, "Eu Sei" cria dúvidas em relação à autoria: é uma composição só de Marisa Monte e não de Nando, como muitos acreditam. Desfeita a confusão, Nando ficou de enviar uma canção novinha para o disco de Negra. Escreveu a biográfica "Negra Livre", que foi para a capa do CD (Nando faz ainda participação especial ao violão), enquanto "Você Vai Estar na Minha" virou a primeira música de trabalho do álbum, com pleno aval de Marisa Monte. Outra participação é de Caetano Veloso, fazendo duo na romântica "Meus Telefonemas" (parceria dele com LG, Cláudio Radikal, Dinho, José Júnior e Jairo), que já havia sido gravada pelo AfroReggae. Negra conheceu Caetano num estúdio, o mesmo em que o RZO fazia umas gravações e o cantor baiano participava de um CD de Elza Soares. Caetano cumprimentou a trupe e Negra Li retribuiu: "E aí, firmeza?" O cantor depois perguntou se eles tinham gostado da gravação dele. Novamente, Negra tascou: "Da hora." Caetano lhe confessou mais tarde que ficara meio assustado com o jeitão dela. Numa premiação, ela puxou Caetano de canto e pediu uma música nova. Como o cantor estava envolvido com seu CD de inéditas, pensou-se em resgatar "Meus Telefonemas" Além de se dedicar agora à divulgação de Negra Livre, a cantora está na expectativa do lançamento do filme "Antônia", de Tata Amaral, que virou também seriado de TV. É a trajetória de quatro garotas do hip hop, que sonham em viver da música. Para Negra, não foi tão difícil dar uma de atriz, porque é um pouco de sua história que está representada ali. Uma história que já se sabe o final.

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