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Nasce uma nova orquestra em São Paulo

A Orquestra São Paulo reúne 16 músicos e não mantém vínculos com instituição nenhuma. Para seu diretor, Benito Juarez, é um forma de evitar o "engessamento" e a "burocracia"

Por Agencia Estado
Atualização:

São Paulo acaba de ganhar uma nova orquestra. Dirigida pelo maestro Benito Juarez, a Orquestra São Paulo tem 16 músicos e assume, de acordo com o programa executado, o perfil de um grupo barroco, clássico ou romântico, com a participação de músicos convidados. Sem vínculos com nenhuma instituição, a orquestra pretende extrair sua subsistência de parcerias com o poder público e com a iniciativa privada. "É uma forma de deixar de lado o engessamento estrutural e a burocracia, elementos que acabam com a dinâmica, desfavorecendo o desenvolvimento artístico. É preciso entender que o consumo de idéias musicais deve entrar nas leis do capitalismo." A declaração do maestro Juarez, que durante quase 30 anos foi diretor da Sinfônica de Campinas (orquestra mantida pelo município), se por um lado abre espaço para toda uma discussão a respeito da indústria cultural, por outro evidencia uma situação que, há alguns anos, vem tornando complicada a vida de orquestras públicas paulistas. Salários baixos, burocracia, falta de verbas e de espaços adequados são condições que passaram a fazer parte de seu dia-a-dia. Um dos casos mais significativos, tendo em vista o papel a que se propõe, é o do Teatro Municipal, ao qual estão vinculadas duas orquestras: a Sinfônica Municipal e a Experimental de Repertório. Segundo Miriam Mazzei, coordenadora dos corpos artísticos estáveis do teatro, a verba total do teatro é de R$ 17 milhões, dos quais R$ 14 milhões são destinados a pagamentos de salários e de funcionários terceirizados, como os das equipes de segurança e de limpeza. Sobram R$ 3 milhões para bancar a programação das orquestras e também do Quarteto de Cordas e do Balé da Cidade e de dois corais: o Lírico Municipal e o Paulistano. Pouco, segundo Miriam. Mas, mais do que financeiros, os problemas mais graves são estruturais. Até este ano, o cargo do diretor do Teatro Municipal, que já foi ocupado pelos maestros Isaac Karabtchevski e Júlio Medaglia, não existia dentro do organograma da Secretaria Municipal de Cultura. Na prática, a posição acabava sendo ocupada pelo diretor do Departamento de Teatros e desvincular o Municipal do departamento foi uma das primeiras medidas de Lúcia Camargo, quando assumiu o teatro no início deste ano. Outra medida foi a separação entre direção administrativa e artística - como ocorre com a Osesp. Para este último posto, acaba de ser confirmada a escolha do maestro norte-americano Ira Levin, que regeu em setembro os concertos em comemoração aos 90 anos do Municipal. No que diz respeito à organização interna da orquestra, a situação não é muito diferente. Segundo Miriam, há quatro categorias distintas entre os músicos: efetivos, admitidos (estáveis e instáveis) e os "verbas de terceiros". Destes, os únicos que constam da folha de pagamento da Prefeitura são os efetivos. Os admitidos estáveis, apesar de não serem funcionários públicos, têm, segundo Miriam, status de efetivos, só podendo ser dispensados por meio de inquérito administrativo. Os admitidos instáveis, assim como os "verbas de terceiros", diz Miriam, podem ser dispensados a qualquer momento. "No entanto, estou aqui há 21 anos e nunca vi um músico ser mandado embora", afirma. Para renovar e dar nova vida à orquestra e diminuir os gastos com terceiros, Miriam acredita que apenas a realização de um concurso público poderia ser eficiente. "No entanto, desde a última gestão, vem se pensando em formas de realizá-lo e nunca se chega a uma conclusão, além disso, ele custa muito dinheiro." Bolsas - Na Experimental de Repertório (OER), orquestra que tem como função formar jovens músicos e também público, com ênfase em um repertório inventivo (no mês que vem, por exemplo, a orquestra vai unir em um concerto obras do grupo Uakti e do compositor Béla Bartók), a situação não é muito distinta. A OER tem cem músicos: 17 monitores, com salário médio de R$ 2.500, e 83 bolsistas, que recebem de R$ 572 até R$ 609. "É um valor muito baixo, tendo em vista que os músicos continuam a estudar e têm despesas com a cara manutenção de seus instrumentos", diz Jamil Maluf, diretor do grupo. Está à espera de votação na Câmara um abono de R$ 200 para os bolsistas, o que acresceria aproximadamente R$ 200 mil ao total de R$ 560,9 mil gastos atualmente com o pagamento anual de salários. No entanto, caso seja aprovado, o abono não significará um aumento fixo no valor das bolsas, podendo ser retirado a qualquer momento. Um outro problema da orquestra diz respeito à sua sede, um pequeno espaço improvisado no quartel da Polícia Militar na Rua Santo Amaro, centro da cidade. "A orquestra é um elemento acústico e é absurdo que tenha de ensaiar em um local sem acústica nenhuma, no escuro, sem saber como vai soar no momento em que for se apresentar em um teatro", diz Maluf. Há um projeto de levar a OER, assim como outros corpos estáveis da Secretaria Municipal de Cultura para uma nova sede, no prédio do antigo Cine Olido. Segundo a secretaria, no entanto, o projeto ainda está em fase de estudos, uma vez que acabaria envolvendo também outros setores da Prefeitura. A OER gastará até o fim do ano R$ 138,9 mil de locação artística, ou seja, contratação de artistas convidados e cenários e figurinos (no caso de espetáculos audiovisuais, como óperas). Um pouco mais de verba para custear sua programação tem a Sinfônica de Campinas: R$ 200 mil, segundo seu diretor-executivo Henrique Lian, que assumiu o cargo no início do ano, tendo ao seu lado o maestro Aylton Escobar como diretor artístico - separação que, segundo as conclusões a que chegaram representantes de grupos do Brasil todo que participaram do Fórum das Orquestras, realizado em maio, em Brasília, é fundamental para o sucesso desse tipo de instituição.

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