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Nasce um grupo de veteranos, Periferia S/A

Disco de estréia dos dissidentes do Ratos do Porão é pau puro e letras tem políticos como alvo preferido Ouça: Facit Indgnatum Versum

Por Agencia Estado
Atualização:

Jabá, Jão e Betinho, os veteranos do novíssimo grupo Periferia S/A são calejados. Todos já militaram no grupo de João Gordo, o Ratos de Porão - Jão continua lá, mas Jabá, mecânico de motocicletas e baixista, ficou 10 anos sem dirigir a palavra ao ex-colega Gordo, hoje apresentador da MTV. Ele tocou 12 anos no Ratos, fez três turnês pela Europa com a banda, mas admite que cometeu alguns excessos e teve de sair. "Esse é o pessoal que montou o Ratos comigo", conta Jão, guitarrista e vocalista. "A gente mora perto, tudo na mesma vila e sempre se via. Aí, em 2003, eu disse: aí, vamos voltar a tocar juntos!" E vão tocar mesmo: Periferia S/A está sendo lançado também na Alemanha e em Portugal, lugares para onde a banda deve embarcar em uma turnê internacional. Algumas das letras desse álbum (Devemos Protestar, Não Sei, Destruição e Somos Vítimas) foram escritas originalmente para o Ratos de Porão em 1982. Não entraram em nenhum disco dos Ratos, mas mantiveram sua atualidade e parecem ter sido feitas de encomenda para o momento atual. Pau puro, guitarras em velocidade hipersônica, bateria que parece marreta de desmanche de automóveis, letras secas e diretas. "No jornal sai estampado mais uma chacina/Ninguém sabe ninguém viu e assim termina/Mas se o crime é no Bar Bodega o bicho pega/A Justiça pro rico nunca é cega." Eles usam um sample com a voz do apresentador Silvio Santos gritando "Primeiro pião rodando. Vem pra cá, paraibana, vem pra cá!" para uma senhora, e imitam o presidente Lula convocando d. Marisa: "Marisa, vamos passear no meu avião novo. Chama o Zé, o Toninho e o Aloizio!" "Eu queria ter orgulho de ser brasileiro, mas não dá/Não vejo nada de que eu possa me orgulhar", diz a letra de Recomeçar. A diferença entre a crítica social do Periferia S/A é que eles não descem o pau para vender disco, como alguns oportunistas da temporada. Jão tem 38 anos, Beto tem 39 e Jabá tem 41. "Somos uns vovozinhos do punk rock", diverte-se Jabá, que trabalha duro na oficina Cavera Motos consertando "umas motinhas de office-boy". Para ele, mais que um gênero, o punk rock é também um estilo de vida, uma onda que se contrapõe à acomodação que impera de tempos em tempos. "É uma filosofia de vida", ele diz. Entre as letras do Periferia S/A que devem causar certa controvérsia está O Ataque das Testemunhas de Jeová, que reage contra o assédio religioso. "Então não venha bater palmas no meu portão/Não quero me converter nem ser seu irmão/Sua calça de tergal, seu terno da Ducal/Sua bíblia com cheiro de sovaco." Eles retornam para ocupar um território que parecia definitivamente loteado pelo hip-hop, cuja contundência na crítica social parecia mais eficiente. "Eu gosto muito do hip-hop. Eles têm uma forma muito legal de falar da periferia. É isso aí mesmo: é o que tem de ser dito."

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