Nasce o primeiro filho de Gil e Milton

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Por Agencia Estado
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Pela estrada natural que liga Belo Horizonte a Salvador, Gilberto Gil e Milton Nascimento transitaram durante um ano. Mergulharam e redescobriram um ao outro, e às suas sanfonas, instrumento que começaram a tocar quando meninos. Desse encontro fortuito, quase aleatório segundo Gil, nasceu Gil e Milton. Ou seria Milton e Gil? Na capa do novo disco que sexta-feira chega às lojas do Brasil, da Europa, dos Estados Unidos e do Japão, a hierarquia não está explícita, nem poderia estar. Para completar, dia 23 de novembro eles estréiam show no Rio de Janeiro. No início de dezembro tocam em São Paulo. Em janeiro abrem a terceira edição do Rock in Rio. Gil e Milton começou a ser gestado cinco anos atrás. As férias tinham acabado e eles precisavam voltar para o Rio de Janeiro. Se encontraram no avião. Conversaram durante o trajeto e desse bate-papo nasceu o projeto do disco em conjunto. "Durante a viagem, fomos convidados pelo comandante a visitar a cabine", conta Gil. "Depois de alguns minutos que estávamos lá, vimos ao fundo um clarão. Perguntei ao comandante o que era aquilo". O piloto respondeu: "É Belo Horizonte". Gil relata que nesse instante Milton olhou para ele com um olhar cúmplice: estava plantada a semente de Gil e Milton. Mito ou não, a idéia ficou no ar, esperando maturar, e em setembro do ano passado os dois se reuniram para a concepção. Nessa primeira transa, cada um impôs uma música. Escolheram canções da época em que se encontraram pela primeira vez, no final dos anos 60, na casa de Elis Regina. "Um apartamento na esquina da Av. Rio Branco com a Ipiranga", em São Paulo. De Milton, Gil canta Canção do Sal e de Gil, em parceria com Nana Caymmi, Milton canta Bom Dia. Passando das preliminares, optaram por escolher quais mestres homenagear. Um mineiro e um baiano. Ary Barroso e Dorival Caymmi. "Eu disse, quero Dora, de Caymmi", conta Gil. "Eu disse quero Maria, de Ary", completa Milton. Em consenso, na seqüência, escolheram Baião da Garoa, de Luiz Gonzaga, mestre de ambos. Depois Xica da Silva, do companheiro de geração Jorge (Ben) Jor. Dos Beatles, Something, que nas mãos de Gil ganhou versão reggae. Por último, para não deixar de fora a nova geração de compositores latinos, Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón, de Fito Paez. Janeiro, Salvador - Resolveram também conceber em conjunto. Começaram em janeiro, tempo de férias, no apartamento de Gil, em Salvador. "Olhamos um para o outro, e na dúvida do que fazer, disse a ele para escrever uma letra. Milton fez grandes letras e depois, com todos os ótimos parceiros que arrumou achou que não precisava mais escrever", comenta Gil. Obediente, Milton escreveu Sebastian, em homenagem ao Rio de Janeiro e ao padroeiro da cidade, São Sebastião. Na seqüência compuseram Duas Sanfonas, referência explícita aos primórdios de suas carreiras. A faixa segunda do disco conta com a participação da dupla Sandy & Júnior. Sobre a inusitada presença, Milton diz: "Música, qualquer música, é aquela que nos conduz à amizade, à liberdade, ao respeito. Nós não nos auto censuramos". Em Salvador também foram compostas Trovoada, o rock and roll Lar Hospitalar e Dinamarca. Completam o disco as vinhetas, versos de Ponta de Areia, de Milton e Palco, de Gil. Gil e Milton é cria primogênita de duas histórias concorrentes da música brasileira. Da síntese do som dos meninos sanfoneiros, um criado na pequena Ituaçu, ventre da Bahia, outro em Três Pontas, seio das Minas Gerais. Para tanto, não procuraram usar elementos que não aqueles já presentes no trabalho de ambos. "Não fizemos exigências estéticas na escolha do direcionamento musical, em nenhum momento nos colocamos imposições", explica Gil. Assim é o disco, exatamente como o baiano viu parir, e que assim seja.

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