Está tudo dominado: o hip hop distribui seus tentáculos e se espalha pelos cantos em forma de shows, baladas comandadas por DJs de rap e a multiplicação de graffitis nos muros da cidade. Esse domínio fica mais evidente a partir deste final de semana. Hoje, estréia em circuito comercial o documentário Fala Tu, dirigido por Guilherme Coelho e roteirizado por Nathaniel Leclery. E amanhã começa o festival Hip Hop - 5 Elementos. O evento reúne uma série de atividades (oficinas, exposições, exibição de filmes, debates), mas o filé da programação é o show de encerramento dos Racionais MCs (na foto acima), dia 25, com participação de Jorge Ben Jor. Pela importância de ambos os nomes para a música negra brasileira, pode se esperar uma apresentação, no mínimo, memorável. O DJ dos Racionais, KL Jay, ainda participa do festival como curador de uma oficina para DJs nos dias 4 e 18. "A idéia é passar a noção de mixagem para os moleques e as meninas. A base do trabalho do DJ é a mixagem, que é fundamental para a noção de ritmo", disse. "Vou contar também um pouco da história do hip hop, explicar como a tradição dos sound systems jamaicanos foi levada para o Bronx pelo DJ Kool Herc, nos Estados Unidos. Vai ter aula prática e teórica." Haverá ainda exibição do filme O Invasor (2001), de Beto Brant, que traz o rapper Sabotage no elenco. Assassinado em janeiro do ano passado, ele também ganhará homenagem na Rádio Hip Hop - um programa de entrevistas que vai ao ar amanhã, na abertura da exposição Rap - Origem/Destino. Com 170 capas dos principais LPs de rap paulista, a mostra fica em cartaz até o dia 25. Tudo isso no Sesc Itaquera (Av. Fernando do Espírito Santo, 1000, tel.: 6523-9200). Cinema - A paixão pelo rap une os três personagens principais do documentário Fala Tu, Macarrão, Thogun e Combatente, moradores da zona norte do Rio. No fundo, a música se tornou apenas um pretexto para compor um quadro maior e mais amplo sobre como esses personagens levam suas vidas. Coelho e Leclery filmaram desde a rotina no trabalho até pequenas brigas domésticas, encontros familiares nos hospitais, reuniões de amigos. Situações que causariam constrangimento se captados por uma câmera comum. No filme, consegue-se ultrapassar na maior parte das vezes esse limite entre o constrangimento e a naturalidade. Fala Tu mostra a vida dessas pessoas durante um período de nove meses com tudo que uma vida tem de bom e de ruim, incorporando tragédias pessoais, perdas e outras atribulações. Essa é a ousadia que faz desse documentário valer a pena. Mostrar as mazelas de três pessoas comuns, sem ter medo de incorporar o que são apenas fatalidades.