Nando Reis lança seu primeiro disco pós-Titãs

Com A Letra A, o músico ressurge satisfeito por fechar um velho dilema: sair do Titãs foi mesmo uma decisão correta

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Salvo por seis cordas de aço, esticadas em um violão preto e vermelho de braço fino e bordas brancas - que fala grosso e que pula quando há poeira pela frente. Nando Reis segura nas cordas para sair dos escombros em que se meteu. Está aliviado por não ter mais todo o peso do mundo em suas costas, desde que decidiu sair dos Titãs. E ainda chora as perdas recentes dos amigos Cássia Eller e Marcelo Fromer. Seus dedos são lentos, suas canções simples e sua voz fraca quer sempre ir mais longe do que pode. Seu primeiro álbum com músicas inéditas - sem estar na condição de um "titã-em-férias" -, no entanto, expõe suas fraquezas quase que de forma intencional para tentar transformá-las em aliadas. Nando Reis ressurge triste, mas satisfeito por fechar a tampa de um velho dilema: sair do Titãs foi mesmo uma decisão correta. Não é pelo fato de falar essencialmente sobre amores possíveis ou impossíveis que A Letra A - nome do álbum - reflete um músico de coração doce e saltitante. Falar que "o nosso amor é essencial / nenhum amor é imortal / eu gosto de você!" ou que "a dor do amor sobe pro céu e vai se espalhar no ar" são metáforas para se defender. Não há canção dedicada a Marcelo Fromer, frase que cite Cássia Eller e nenhuma farpa arremessada contra os ex-amigos. Pelo menos não diretamente. Nando preferiu flores às pedras, mas não esconde que tudo o que viveu no último ano valeu de inspiração. "O tema ´amor´ é recorrente, mas não de maneira intencional. É mais uma maneira de expressar meu ponto de vista, uma maneira de formalizar conflitos e desejos que estão em relações universais. É quase que uma defesa, possivelmente uma característica minha." E assim, sem se controlar, começa a falar do que gostaria de esquecer. "Não faço crônicas. Quando faço uma canção não cito exatamente um episódio de maneira linear. Mas estes episódios estão lá. Duas canções, por exemplo (Dentro do Mesmo Time e E Tudo Mais), são da época da morte do Fromer. Mas não falo diretamente da morte porque ela é invisível." Mais do que evitar o tema, Nando Reis quer ver o sol até queimar as retinas em seus versos. Fala que está feliz até quando é abandonado pela amada em Mesmo Sozinho; diz que vai "sair anunciando que o sol não vai mais se deitar" em Hoje Mesmo; e volta a se render à paixão em Um Simples Abraço, alucinado e confessando que é uma avenida, que é uma colher, que é um temporal. "E agora que amo você / o mundo não precisa nunca mais girar / porque agora que eu amo você / Se eu amo você." Só não há amores nas lembranças de quando cantava e tocava baixo em um dos grupos de rock que mais venderam discos no país. "Fora dos Titãs, o que muda logo de cara é a maneira como as pessoas me vêem. Respondo com mais convicção sobre tudo o que eu faço. Não há mais aquela imagem do ´cara dos Titãs que faz um disquinho quando tem um tempo´. Muitas pessoas pensavam que esses discos-solo eram uma espécie de hobby, de diversão, de trabalho paralelo. Nunca gostei disso."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.