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Naná Vasconcelos repercute Itamar Assumpção

O percussionista Naná Vasconcelos e o compositor paulista Itamar Assumpção (1949-2003) começaram a gravar um CD que sai agora e é apresentado em show com Zélia Duncan. Ouça a faixa Leonor

Por Agencia Estado
Atualização:

No início de 2001, o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos e o compositor paulista Itamar Assumpção (1949-2003) se reuniram para produzir o que prometia ser um dos encontros mais felizes da música preta brasileira. Itamar morreu deixando a obra inacabada, não sem antes de arrumar encrenca no meio das gravações. A certa altura quis transformar o que seria um projeto especial em disco de carreira deixando Naná à sombra. Entre desentendimentos com o parceiro e o produtor Paulo Lepetit, o disco ficou na geladeira. Itamar não teve tempo de voltar a recuperar o trabalho. "Tomou o ônibus antes de mim", brinca Naná. Os dois gravaram cerca de 15 músicas, mas apenas 7 foram concluídas e estão no CD Isso Vai Dar Repercussão (Elo Music), que Naná lança em dois shows sábado e domingo no Sesc Pompéia. O roteiro inclui as inéditas que ficaram fora do disco. Substituindo Itamar nos vocais estará Zélia Duncan, a cantora que mais deu visibilidade à arte contundente do compositor. A outra, Cássia Eller, também "tomou o ônibus" cedo demais. Paulo Lepetit teve a idéia de produzir o disco e coube a ele criar os arranjos em cima do que Itamar deixou. "Procurei preservar o máximo da essência do projeto, que era de violão, voz e percussão", explica. Lepetit, Bocato, Vange Milliet, Tata Fernandes, Anelis Assumpção e Cláudia Missura fazem sutilíssimas participações com palmas, violão, baixo, trombones, voz, programações eletrônicas. Para Naná foi uma experiência desafiadora. "Trabalho muito com improviso e aquela foi uma oportunidade de mostrar o lado mais rítmico da minha percussão", diz. O som de um modificou o do outro. E essa reciprocidade é que torna o disco primoroso, apesar de Itamar ter gravado apenas a voz-guia. No melhor conceito do quanto mais econômico melhor, Itamar e Naná extraem o máximo do mínimo. As composições falam por si. Leonor, que abre o CD é um samba nos moldes dos ancestrais, com versos irônicos do tipo: Falo mais de amor do que de dor, Leonor/ Mas não sou Roberto Carlos/ Não tenho carro de boi/ Nem outro tipo de carro". Cheias de citações culturais e jogos de palavras maliciosos sobre melodias sedutoras, as letras destilam a mordacidade genial que marcou a figura do vulgo Nego Dito. Eu tenho cabelo duro/ Mas não tenho o miolo mole... Tudo que é falso esconjuro/ Seja flerte ou love story, manda ver no xote Cabelo Duro. Itamar, como Luiz Tatit e Tom Zé, era mestre em ampliar detalhes onde outros só vêem o que bóia na superfície. Rock enviesado, Na Próxima Encarnação é uma irônica carta de intenções de quem sentia o fim iminente pela corrosão do câncer, deixando para trás uma trajetória difícil. "Na próxima encarnação/ Não quero saber de barra/ Replay de formiga não/ Eu quero nascer cigarra/ Nascer Tom Zé, Jamelão/ cantar, Violeta Parra/ Zé Kéti, Duke Ellington/ com banda, orquestra e fanfarra". Naná Vasconcelos e Zélia Duncan. Sábado(3/4),às 21 horas; e domingo, às 18 horas. De R$ 13,00 a R$ 30,00. Teatro do Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, Pompéia, em São Paulo, tel. 3871-7700

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