'Nada do que faço é marketing’, diz Gaga

Cantora, que lança disco ‘Artpop’ em novembro, volta à cena e defende que estilo controverso é apenas seu jeito de ser

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Por Redação
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Estamos em um quarto de hotel no centro de Londres aguardando a maior estrela da música pop do momento: Stefani Joanne Angelina Germanotta, a Lady Gaga. A americana de 27 anos retornou com uma apresentação no MTV Awards e outra na abertura do Festival iTunes, em Londres, no último domingo, com um setlist somente de novas canções. Talvez o barulho seja para compensar o sumiço: no início do ano, uma fratura a obrigou a se submeter a uma cirurgia no quadril e cancelar a última turnê. Gaga recebe o Estado vestindo uma justa blusa preta e uma saia roxa, com a barriga à mostra, cabelos supercurtos levemente louros e um piercing azul entre as narinas.

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Ela rapidamente faz questão de explicar: “Quando parei por causa do meu quadril, não tinha interesse em ser vista, apesar de ter minhas maravilhosas cadeiras de rodas com muito brilho”, brinca. “Não tinha nada para promover, por isso, chamar a atenção naquele caso seria algo vazio.” E aprofunda-se em sua teoria da fama. “Não gosto do rótulo de celebridade, de ser fotografada por motivos que não são os mesmos que os de outras pessoas famosas”. Stefani seria Lady Gaga 24 horas por dia? “Consigo ser anônima se quiser. Se você não me viu em alguns lugares a que fui, é porque provavelmente eu estava disfarçada”, sorri. “Mas isso também é Lady Gaga. Troco de roupas para me sentir mais forte, e troco de cabelo três vezes ao dia, às vezes, porque sinto que é necessário. Isso tudo se tornou uma forma de arte por causa dos fãs”, justifica.

Durante a entrevista, Gaga reforça a todo instante a importância da fama – ou, talvez, o medo da falta dela. “Tento preservar a base de fãs que fiz nos últimos cinco anos e quero sempre ter certeza de que eles estão comigo, e não com outro artista”, explica seriamente. “No último domingo, quando os vi cobertos em brilho, usando perucas e novas roupas, foi pura alegria. Senti que estava de volta.” Perguntamos como ela suporta a pressão da fama, essa que sempre almejou. “Eu não queria tanto ser famosa, apesar de o meu primeiro álbum ter várias referências a essa cultura.”

Mais uma vez, Gaga defende a necessidade de reconhecimento. “O artista só existe por causa do aplauso”, afirma, em referência à música Applause. “Busquei inspiração nos velhos tempos, quando todo mundo reverenciava e aplaudia o artista, querendo ou não, com aplausos ou vaias”, diz, ponderando que o nível de vaias hoje é diferente. A cantora reclamou recentemente de abuso nos comentários no Twitter, em que tem 40 milhões de seguidores, e foi vaiada no MTV Music Awards antes mesmo de iniciar a performance.

“O que quero dizer com o novo álbum é que nada do que faço é marketing, e nada é feito para que você compre algo baseado no que você gosta, mas sim no que eu gosto”, defende a atual rainha da controvérsia. “Ser eu mesma foi como sobrevivi. Talvez tenha sido difícil admitir isso antes, pois eu não queria que as pessoas pensassem que eu era maluca. Mas, agora, não estou nem aí para o que elas pensam”, desdenha.

Então ela não se importa com o “nível do aplauso”? “Não é isso!”, gagueja. “Eu me importo se você está feliz por causa da minha apresentação, é isso que quero. É para o que vivo. Sou uma artista”, afirma a cantora que, em outros tempos, ostentou um vestido de carne. “Não me apresento esperando saber o que as pessoas vão comentar no Twitter”, diz. “Quando as criticas foram pesadas após Born This Way, os únicos que me defenderam foram os estilistas, os que sempre amei. Eu chorava, pois não acreditava que estavam do meu lado.”

Artpop, que será lançado em novembro, é, de fato, uma carta de amor mais direcionada aos fãs que à fama. Músicas como Applause e I Wanna Be with You expõem urgência em agradar a plateia, enquanto a canção Manicure traz o que Gaga faz de melhor: não se levar a sério. O disco é uma mistura de gêneros impressionante, de ritmos extraídos dos anos 80 e 90, com inspirações diretas de Blondie e, claro, Madonna. O rap Jewels & Drugs traz colaboração de nomes como T.I: “Neste, eu sou mais produtora. Queria que ele brilhasse”.

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Artpop não seria completo sem polêmica, que, desta vez, aparece em Sex Dreams – em que ela canta: “Eu gosto de me tocar à noite pensando em você” – e em Aura, que já causou controvérsia sem nem ter sido lançada, somente por conter a palavra burca. “Aura não tem nada a ver com burcas, esse não é nem o nome da música. Aura tem a ver com véus e proteção”, justifica. Na canção, a cantora repete algumas vezes: “Não sou uma escrava, sou uma mulher de escolhas”. Entre outras colaborações curiosas, estão artistas pop como Jeff Koons e Robert Wilson. “Sei que algumas pessoas não vão prestar atenção nisso, pois só querem me ver dançando, mas eu faria uma injustiça se não usasse minha fama para mostrar esses talentos”, justifica. O álbum será lançado também no formato de aplicativo.

Em breve, Gaga atacará também nos cinemas. Primeiro, no filme Machete Mata, de Robert Rodriguez e, depois, ela seguirá os passos de Justin Bieber, Katy Perry e One Direction. “Terry Richardson me seguiu por dois anos e fez um documentário sobre minha vida. Será lançado no próximo ano”, anuncia.

Não fosse a contradição, Gaga não seria tão interessante. É a qualidade que a tornou o acontecimento mais interessante na música pop dos últimos anos. Contraditória, inovadora, talentosa e, com Artpop, mais chiclete do que nunca. Como na letra da canção que dá nome ao álbum, Gaga confessa que não está nem aí: “Meu Artpop pode significar qualquer coisa”. Ou está?

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