Músicos se juntam em uma orquestra de refugiados em defesa da Ucrânia

Para ajudar as tropas do país, grupo de 74 músicos já tocou em Amsterdã e Berlim e foi para os EUA

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Por Javier C. Hernández
Atualização:

Depois de anos lutando para ganhar a vida como músicos na Ucrânia, Yevgen Dovbysh e Anna Vikhrova sentiram que finalmente haviam construído uma vida estável. Eram marido e mulher, artistas da Filarmônica de Odesa - ele toca violoncelo, ela violino - compartilhando o amor pelas partituras de Bach e pela música de Star Wars. E moravam em um apartamento às margens do Mar Negro com sua filha de 8 anos, Daryna.

Então, a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro. Vikhrova fugiu para a República Checa com a filha e a mãe, levando algumas centenas de dólares, algumas roupas e seu violino. Dovbysh, de 39 anos, não foi autorizado a sair por estar em idade militar. Ficou para trás e ajudou nos esforços de defesa da cidade, recolhendo areia das praias para reforçar barreiras. 

Yevgen e Ana no reencontro em Varsóvia: apoio em 12 cidades. Foto: Maciek Nabrdalik/The New York Times

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Dovbysh recebeu permissão especial para deixar o país no mês passado e se juntar à Orquestra da Liberdade Ucraniana, novo conjunto de 74 músicos que estava se reunindo em Varsóvia - a primeira parada de uma turnê destinada a promover a cultura ucraniana e denunciar a invasão da Rússia. Com seu violoncelo, ele embarcou em um ônibus para a Polônia, ansioso para tocar pela causa e se encontrar outra pessoa do conjunto: sua esposa. “Não tenho uma arma, mas tenho meu violoncelo”, afirmou.

Quando seu ônibus chegou a Varsóvia, ele correu para encontrar Vikhrova. Ele bateu na porta de seu quarto de hotel, esperou nervosamente e a abraçou quando ela abriu. Ela lhe deu a estatueta de uma criatura de Guerra nas Estrelas, Baby Yoda, presente de aniversário atrasado. “Finalmente, somos quase como uma família novamente”, ele afirmou.

Turnê 

Na manhã seguinte, os dois tomaram suas cadeiras na nova Orquestra da Liberdade Ucraniana, liderada pelo maestro ucraniano-canadense Keri-Lynn Wilson: ia começar uma turnê por 12 cidades para angariar apoio à Ucrânia. De Varsóvia o grupo foi para Londres - e depois Edimburgo, Amsterdã, Berlim e outras cidades - e esta semana viajará para os EUA para tocar hoje e amanhã no Lincoln Center de Nova York e no Kennedy Center em Washington, no sábado.

A turnê foi organizada com o apoio do governo ucraniano. O presidente ucraniano Volodmir Zelenski disse em comunicado recente, comemorando a fundação da orquestra, que a “resistência artística” à Rússia era primordial. A orquestra tem ainda o apoio de figuras poderosas da indústria da música. O marido do maestro Wilson, Peter Gelb, que dirige o Metropolitan Opera em Nova York, ajudou a alinhar compromissos e benfeitores, e o Met ajudou a organizar a infraestrutura da turnê. Waldemar Dabrowski, diretor do Teatro Wielki, a casa de ópera de Varsóvia, forneceu espaço para os ensaios e ajudou a garantir o apoio financeiro do governo polonês. 

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