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Músico lança livro sobre o batuque brasileiro

Por Agencia Estado
Atualização:

Está no prelo, e chega às lojas ainda este ano, o livro Batuque É um Privilégio - um compêndio, ou método, de bateria e percussão brasileiras, de autoria de um dos maiores nomes da especialidade, homem do samba do choro, da polca, do maxixe, do lundu, Oscar Luiz Werneck Pellon, ou melhor, Oscar Bolão. Batuque É um Privilégio tira o título da frase do samba famoso de Noel Rosa - mas pretende que o batuque brasileiro, o uso do ritmo com sotaque brasileiro, esteja ao alcance de todos os interessados. O livro sai pela editora Lumiar, exclusivamente dedicada à música. O carioca Oscar Bolão começou a vida profissional em 1974, participando do conjunto Coisas Nossas. Era, então, estudante de Direito. Mas morava no Leblon, a duas quadras da favela da Praia do Pinto. Ali cresceu vendo e ouvindo os blocos de sujo, os garotos do morro batucando em latas, os ensaios para o carnaval - e saía atrás, acompanhando os blocos. "Minha referência foi sempre o batuque", ele conta. "O som dos ensaios dos sábados entrava pela janela", lembra. E começou a batucar. Um dia, comprou um cavaquinho. Mas as finas cordas de aço machucavam o dedo. Bolão voltou à percussão. Pediu uma bateria de presente. A mãe achou que seria barulhento demais. Deu-lhe um violão, professor e o mais. No entanto, o professor era aborrecido, o violão machucava os dedos - não havia jeito. Bolão seria dos tambores, mesmo. Quando entrou para o Coisas Nossas - grupo que realizou importante trabalho sobre a música urbana dos anos 20 e 30 -, tocava pandeiro. Só então foi ter uma bateria. Resultado: é um baterista que tem visão de percussionista. A diferença é que o percussionista sabe o valor de cada peça que compõe o instrumento, sabe de que maneira deve ser usada e soar para determinado gênero - nem todo baterista sabe isso. "Hoje, com percussão dominando a cena, os bateristas tornaram-se burocráticos", diz Bolão, sabendo que há exceções. "Mas existe uma maneira brasileira de tocar bateria, e é sobre essa maneira, que está sendo perdida, que falo no meu livro", explica. A experiência profissional de Oscar Bolão é vasta e diversificada. Vai dos gêneros mais tradicionais à música contemporânea de Ronaldo Miranda, Ricardo Tacuchian e Tato Taborda, passando pela Orquestra de Música Brasileira, pela Orquestra de Cordas Brasileiras, pela Sinfônica do Rio de Janeiro, pela Camerata Universidade Gama Filho, dirigida pelo clarinetista Paulo Sérgio Santos - com quem gravou a recém-lançada obra-prima Gargalhada, num trio de clarinete, percussão e violão. Gravou com Cristina Buarque, Braguinha, Lúcio Alves, Nelson Cavaquinho, Monarco, Nei Lopes, Nara Leão, Miúcha, Moreira da Silva, Walter Alfaiate, Lenine, Sérgio Ricardo, Jards Macalé. Tim Rescala dedicou a ele duas peças: o Concerto para Dois Tambores e Cordas e Drummer Drama, para bateria convencional e bateria eletrônica. Em Batuque É um Privilégio, Oscar Bolão ensina os pulos-do-gato que desenvolveu e os que aprendeu com o mestre Luciano Perrone, o criador da tal maneira brasileira de tocar bateria. São detalhes que fazem toda a diferença: "Como minha formação é de percussionista, quando toco bateria, penso na percussão", diz. "Transporto o uso do polegar, no pandeiro, para o bumbo, ou faço o tamborim, ou traduzo o surdo para o bumbo" - são truques que não se aprende na escola (e por isso o batuque fica sendo um privilégio, mesmo), porque não existe uma escola de música brasileira; muito menos, uma escola de bateria brasileira. O livro de Bolão não é o primeiro do gênero, mas é um aprofundamento do que já foi dito. Pretende-se completo sobre o assunto e tem uma continuação planejada - só sobre percussão.

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