Músico brasileiro lança disco primeiro lá fora

Joyce, Carlos Lyra e Celso Fonseca são alguns exemplos de cantores cujos novos CDs só agora chegam às lojas do País. Clique para ouvir A Banda Maluca (Joyce) Gente do Morro (Carlos Lyra)Bom Sinal (Celso Fonseca)

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Por Agencia Estado
Atualização:

Cresce o rol dos exilados na própria terra natal. Qualquer artista brasileiro que faça música de qualidade tem mais chance de conseguir lançar seus discos no exterior do que no próprio país. Antes acontecia mais com o pessoal escolado na bossa nova, como Joyce, João Donato, Marcos Valle e Johnny Alf. Depois foi a vez de sambistas veteranos como Wilson Moreira, Guilherme de Brito e Nelson Sargento. Agora é geral. Virgínia Rodrigues e cantoras mais voltadas para o pop como Daúde e Katia B são as mais novas adeptas. Isso sem falar dos que optaram por morar nos Estados Unidos, como Bebel Gilberto, Luciana Souza, Eliane Elias, Eumir Deodato e outros. Dos demais citados acima a maioria mora no Rio, grava e produz seus discos em estúdios locais, com músicos brasileiros, cantando na maior parte das faixas canções inéditas e em português. Mas cadê gravadora para lançar? De vez em quando elas aparecem. Esta semana chegam às lojas mais três títulos que passaram por esse processo. São Banda Maluca (Biscoito Fino), de Joyce, Natural (Universal), de Celso Fonseca, e Sambalanço (MCK), de Carlos Lyra. "É um momento que se prolonga há mais de duas décadas. O Brasil voltou as costas para si mesmo. Para quem faz música criativa vai ficando cada vez mais difícil, mas não é por isso que a gente vai parar", afirma a cantora e compositora Joyce, campeã na categoria. Lançado em 2003 pelo selo Far Out na Europa e pela Columbia no Japão, Banda Maluca é seu 25.º disco de carreira e o 11.º produzido para o mercado externo. "Falo isso sem nenhum travo de amargura, porque meu trabalho lá fora está muito bem, mas é uma perda para o Brasil." Os fãs já estão tão habituados a comprar seus discos importados, que outro dia um deles levou Gafieira Moderna para ela autografar num show no Rio e surpreendeu-se ao saber que o CD tinha saído aqui. "Meu país paga altos royalties para ouvir minha música porque a indústria não sabe que existem produtos rentáveis de qualidade aqui", alerta Joyce. Com público cativo no Japão e na Europa, ela não pára de fazer turnês por lá. No ano passado ela teve dois discos lançados simultaneamente - um na Inglaterra, outro no Japão. Nesta quarta-feira, em rara aparição em São Paulo, apresenta-se no Sesc Vila Mariana na Série Lançamentos. Nem tudo, porém, é fácil como parece. Carlos Lyra acabou comprando os direitos de Sambalanço, porque detestou o resultado inicial. Ele mudou desde a arte da capa até a ordem das faixas, que foram remasterizadas. No entanto, manteve o nome do japonês Kazuo Yoshida - conhecido produtor de vários discos de brasileiros. "Quando mandei o disco refeito, o presidente da gravadora entendeu por que eu não tinha gostado do que fizeram." "As gravadoras japonesas fazem o que querem, por isso de vez em quando há esse impasse", diz Lyra. "Em compensação meus discos da antiga Philips saíram melhor lá do que no Brasil, onde estão todos fora de catálogo. Com Sambalanço, Lyra vai comemorar 50 anos de carreira reunindo convidados como Maria Bethânia, Marcos Valle, João Donato, Miúcha, Roberto Menescal, Os Cariocas e outros, em show único, no dia 17, no Canecão. Celso Fonseca, que esteve três vezes no ano passado na Europa, onde fez 25 shows, gravou Natural simultaneamente a Slow Motion Bossa Nova, de 2001, o último projeto da trilogia com Ronaldo Bastos. O disco foi encomendado pelo brasileiro Béco Dranoff, que o lançou por seu selo Ziriguiboom, braço da gravadora belga Crammed. "Devagar se vai ao lounge", brinca Fonseca, referindo-se à tendência que vigora na Europa. Ele pode até entrar nesse escaninho nas prateleiras, mas rejeita a necessidade de rotular. "Fiquei meio preso a discos conceituais, este seria a revolução" avalia. Bossa nova é apenas uma das referências sobre as quais desenvolve sua música, de formato cada vez mais minimalista. "Acho que há uma predisposição geral à procura por coisas mais simples, pela beleza. Está todo mundo cheio de muito ruído, muitos instrumentos", conclui. "A crise do mercado é a crise da música acima de tudo. Norah Jones é uma mostra disso. Ela não faz nada de novo, como eu também não faço. Mas não é à toa que ela vendeu 18 milhões de discos no mundo."

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