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Música Ligeira faz show de despedida no Sesc Pompéia

Com 16 anos de existência, muitos shows, nenhum grande sucesso e elogios generosos no currículo, o trio Música Ligeira chegou ao fim

Por Agencia Estado
Atualização:

Com 16 anos de existência, muitos shows, nenhum grande sucesso e elogios generosos no currículo, o trio Música Ligeira chegou ao fim no ano passado com a morte do cantor Rodrigo Rodrigues, que também tocava violão, gaita, sax e pandeiro. Nesta quarta e quinta-feira, os remanescentes do grupo Mário Manga (violões, bandolim, violoncelo, voz e percussão de boca) e Fábio Tagliaferri (viola de arco, violão, baixolão e voz) recebem diversos convidados para dois shows de despedida no Sesc Pompéia, em São Paulo. "Apesar de não sermos uma banda muito conhecida, muita gente cantou e tocou com a gente no palco. O critério foi chamar essas pessoas", diz Manga. Na formação instrumental eles ganham o reforço de dois parceiros que afinam com seu som: Swami Jr. (violão) e Adriano Busko (percussão). Além do violonista Paulo Bellinati, que participa de duas músicas, a lista de vocalistas é extensa: Arnaldo Antunes (que participa só amanhã), Ná Ozzetti Cida Moreira, André Abujamra, Márcia Lopes, Mônica Salmaso, Carlos Fernando, Inácio Zatz, Paulinho Moska, as filhas de Manga (Mariana Aydar) e Rodrigues (Laura Lavieri), Jeanne de Castro e a primeira cantora do grupo, Zuleika Walther. A direção do show é de Hamilton Vaz Pereira, que contou com o Música Ligeira na peça 5 x Comédia e assina composições como O Máximo e Só, gravadas por eles. No telão, haverá projeções de imagens de Rodrigues interpretando canções como Still Crazy after All These Years (Paul Simon) e If it?s Magic (Stevie Wonder). "Ele cantava essas músicas muito bem e esta é uma forma de homenageá-lo", diz Tagliaferri. "Conseguimos também isolar gravações dele em áudio. Então, em algumas músicas vai entrar solo de gaita ou a voz." Fernando Meirelles produziu DVD do grupo O pretexto é o lançamento do segundo CD e o primeiro DVD do grupo. Além do show, gravado no mesmo Sesc em 2004, o DVD tem um documentário dirigido por Deo Teixeira e produzido por Fernando Meirelles, com cenas antológicas e depoimentos de admiradores como Caetano Veloso, Zuza Homem de Mello, Pena Schmidt, Chico César, Mônica Salmaso e Maurício Kubrusly, entre outros. O CD também traz o show inteiro e, como bônus, um duo de Rodrigues com Márcia Lopes em Do U Lie (de Prince), gravado em estúdio. Antes deste, o trio lançou apenas um outro CD homônimo em 1994 , também ao vivo, que está fora de catálogo, mas deve ser reeditado. Cult por aqui, o trio teve o primeiro CD lançado no Japão e chegou a fazer uma turnê de dois meses pela Inglaterra, ganhando como fã o ator Leonard Whiting, o Romeu de Zeffirelli. Rodrigues também deixou um álbum-solo pronto, "Fake Standards", ainda inédito, e foi quem trouxe para o grupo o cancioneiro mais jazzístico. Mais pop-rock, Manga ficava com a parte que incluía Beatles, um dos mais assíduos no repertório do trio. Tagliaferri, que veio da música erudita, diz que ganhou com eles experiência no jeito de tocar e conceber arranjos dentro de um universo sonoro que não conhecia. O musicólogo e crítico musical Zuza Homem de Mello identifica neles um paralelismo com outro grupo raro: o Trio Surdina, formado por Garoto, Fafá Lemos e Chiquinho do Acordeon nos anos 50. Mas talvez venha mais do quarteto de Liverpool a maior influência na estética sonora do grupo, não só no equilíbrio entre bom humor e refinamento musical, mas especialmente nos arranjos de cordas. "Não conhecíamos o Trio Surdina. Talvez pela formação instrumental, com violões e pandeiros, a gente remetesse um pouco ao Bando da Lua, mas muito vagamente até, porque eles eram um grupo vocal", observa Manga. Caetano Veloso é um dos grandes entusiastas deles, como deixa claro num depoimento em áudio no DVD. "O tratamento que é dado a cada canção é muito inteligente e muito delicado também. Na verdade, é uma coisa que a música popular brasileira, a música ligeira do Brasil, precisa", aponta. Caetano dizia que Rodrigues cantava "maravilhosamente bem" e o convidou a participar de seu show no Bar Baretto em 2003. Ouvindo-os juntos no medley Night and Day/Ho-ba-la-la (Cole Porter/João Gilberto) é notável a semelhança de seus timbres vocais. Coincidentemente, ambos têm João Gilberto e Chet Baker entre as mais fortes influências. Só que, embora embasado em vasta cultura musical, o Música Ligeira não era assim tão polido. Começou despretensiosamente como dupla cômica (Manga e Rodrigues) em 1988, por sugestão de Fernando Meirelles e Marcelo Machado, que dirigiam o programa "TV Mix", na TV Gazeta, em São Paulo. "Eles escolhiam o pior repertório possível, só que faziam arranjos muito bonitos", lembra Meirelles. A brincadeira tornou-se assunto sério, a dupla virou trio, foi deixando de lado a parte brega e tempos depois, já com o programa extinto, surpreendeu quem esperava o mesmo escracho. Sem perder o senso de humor, o que se via era um projeto refinado de reinvenção de canções e/ou autores conhecidos (eles nunca tocaram repertório próprio), só pelo prazer da música. Os shows de despedida estão repletos de canções de Lennon & McCartney, Stevie Wonder, Paul Simon, Paulinho da Viola Chico Buarque, com os arranjos originais concebidos pelo trio, como está no CD e no DVD. A morte de Rodrigues, por leucemia, aos 44 anos, selou o fim. Como afirmam Manga e Tagliaferri, o Música Ligeira não é um grupo que pode ser substitutos. Vai fazer falta. Música Ligeira. Teatro do Sesc Pompéia (800 lug.). Rua Clélia, 93, 3871-7700. 4.ª e 5.ª, 21 h. R$ 8 a R$ 20

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