28 de abril de 2011 | 06h00
O ensaio começa às 10 da manhã de terça-feira na Sala São Paulo. No palco, o inspetor pede silêncio. E o spalla Claudio Cruz dá ordem para que comece a afinação. Logo em seguida, chega, sorridente, o maestro Isaac Karabtchevsky. Abre a partitura, olha para os músicos. "Do começo."
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Um dia de ensaio com a Osesp e o maestro Isaac Karabtchevsky
A primeira interrupção vem 15 minutos depois, uma pequena correção no andamento. "Um, dois, três", repete o maestro; pede mais expressividade aos violoncelos, mais força aos tímpanos; corrige uma sequência das flautas. As palavras são poucas - e precisas. E, no fim da manhã, a orquestra já repassou praticamente toda a sinfonia, deixando o palco, para o almoço, no meio do adágio final.
À tarde, é a ele que maestro e músicos retornam. "Não há muito o que dizer, não é preciso falar, vocês sabem disso", recomeça Karabtchevsky. "Mas vou pedir apenas que se lembrem: nesse movimento, tudo é reflexo da vizinhança da morte. Ouçam as batidas do coração de Mahler, leiam a música como reflexo de sua condição física", completa, antes da música recomeçar. Depois do adágio, o ensaio volta ao começo da sinfonia. Hora de corrigir passagens específicas.
"No final das contas, o adágio é o pedaço mais trabalhoso, no qual acabamos gastando mais tempo. É um movimento dilacerado, até porque Mahler está dilacerado nesse ponto de sua vida. A proximidade da morte dá um peso grande à música. E, ao mesmo tempo, há uma certa placidez desconcertante", diz Karabtchevsky ao Estado. "É essa a janela que se abre, essa visão apaziguadora em meio à dor. Já vi muitos colegas interpretando essa passagem de acordo com o manual." Ele canta as notas. "Mas, quando você ouve com cuidado, fica difícil conceber esse tipo de leitura. No quarto movimento da Nona, você precisa chorar a cada nota." Karabtchevsky está falando de passagens como os primeiros compassos do adágio, em que pede que os músicos ajam livremente perante o que está escrito na partitura. E é em momentos como esse que se dá o diálogo do compositor com o intérprete.
NO DOMINGO, DUAS ESTREIAS
A Osesp inaugura no domingo, às 17h, sua série de câmara com duas estreias: o Concertino de Nailor Azevedo, o Proveta, com solos de Flávio Gabriel; e o arranjo para cordas do Quarteto nº 2 de Janácek, feito por Terje Tonnesen. A entrada é franca.
OSESP - Sala São Paulo. Pça Júlio Prestes, 16, tel. 3223-3966. Hoje e amanhã, 21h; sáb., 16h30. R$ 24 / R$ 135 (hoje, 10h, ensaio aberto, R$ 10)
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