Música do Nordeste invade São Paulo

São três shows diferentes e um mesmo universo musical: o nordeste brasileiro. O grupo A Barca, o cantador João Bá e a releitura de Dorival Caymmi feita por Mônica Salmaso dão o tom do fim de semana

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Por Agencia Estado
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Vasto Nordeste, imensa sua música - três faces dela serão mostradas no fim de semana, em palcos da cidade. Nesta sexta e sábado, o grupo A Barca apresenta, no Itaú Cultural, um ritual maranhense de origem religiosa, tema de seu disco em lançamento - Baião de Princesas (CPC-Umes). Também amanhã e sábado, mas no Sesc Ipiranga, a cantora Mônica Salmaso canta a música de Dorival Caymmi, acompanhado pelo trio formado por André Mehmari (piano), Dimos Goudaroulis (violoncelo) e Sérgio Reze (percussão). E no domingo, no Sesc Pompéia, o sertanejo-cantador baiano João Bá promove o lançamento do CD independente com o qual comemora os 50 anos de carreira. O grupo A Barca surgiu em 1998: uma turma de músicos paulistanos dispostos a estudar e expor a riqueza da cultura popular brasileira. Seu primeiro trabalho fez-se orientar pelo levantamento de Mário de Andrade da música do Sudeste e Nordeste - o primordial Turista Aprendiz. O trabalho de Mário deu nome ao disco de estréia do conjunto, lançado em seguida. Em shows pelo Brasil, A Barca chegou a São Luís do Maranhão, onde fez contato com a Casa Fanti-Ashanti. Criada em 1954, a Casa Fanti-Ashanti, centro de cultura popular, mantém um calendário de festas e manifestações sagradas e profanas do Maranhão - o tambor de mina, o almoço dos cachorros, o tambor-de-crioula, o encruzo e, entre muitas outras, o baião de princesas, uma festa religiosa que remonta a meados do século 19, surgida no Terreiro do Egito. O ritual do baião de princesas começava na manhã do dia 12 de dezembro, seguia pela tarde e varava a noite, tendo fim na tarde do dia seguinte. Festa de tambores, proibida, como outras manifestações religiosas populares, disfarçava-se de profana trocando o tambor pela rabeca, pela sanfona, pelos adufes, violões e cavaquinhos. Hoje, é realizada no 13 de dezembro, dia de Santa Luzia. Baião de Princesas, o disco, foi gravado na Casa Fanti-Ashanti, ao vivo, com participação do chefe da casa, o babalorixá Euclides Talabyaian, e por outros membros da comunidade, alguns dos quais estarão, com A Barca, no palco do Itaú Cultural, convidando o público a ver e ouvir "o Mestre reis dos mestres, a estrela que nos guia", a acompanhar a chegada da mãe d´água, em seu capote de veludo, seu chapéu dourado e as demais princesas e rainhas em mantas de miçangas, jóias, xales, leques e fitas. Cumpre lembrar que A Barca contou, na elaboração do trabalho, com a colaboração de uma das mais sérias instituições de pesquisa popular, a Fundação Cultural Cachuera!, um aval de muito peso. E ressaltar que, em relação ao primeiro disco, A Barca deu um salto qualitativo impressionante. Intervindo menos nos resultado final - ou seja, deixando que os sotaques, as sonoridades originais soem quase soberanas -, A Barca presenteia o público com um documento que vem juntar-se ao que de mais precioso existe em matéria de registro da tradição popular. Sons da Bahia - Mônica Salmaso concebeu, em pareceria com o produtor Homero Ferreira, para o Sesc Ipiranga, o projeto Ponto in Comum. Cantora que não se rende a gêneros, a paulistana Mônica organizou uma série de cinco concertos que fazem ponte entre linguagens aparentemente distantes da música brasileira. O deste fim de semana, Dorival Caymmi - Do Mar a Maricotinha - é o último da série. Unirá sua voz singular aos gênios (não há exagero) de três jovens instrumentistas - o niteroiense André Mehmari, o grego Dimos Goudaroulis e o paulista Sérgio Reze, músicos de formação erudita, imaginação vibrante, gosto pelo jazz e pelo improviso. Daí nascerá, certamente, uma visão incomum - o trocadilho é deles - da música de Caymmi. É permissível antecipar que respeito (não obediência) e ousadia (nenhuma invencionice modista) vão temperar as leituras de clássicos como A Preta do Acarajé, O Bem do Mar, Pescaria, A Vizinha do Lado. Nascido em Crisópolis, no sertão baiano, o poeta, ator, compositor e cantador João Bá começou carreira aos 12 anos e é uma referência da música do interior do seu Estado, tendo obras - são mais de 200 músicas - gravadas por Hermeto Paschoal, Almir Sater, Diana Pequeno, Dércio Marques, Marlui Miranda e muitos mais. Diana Pequeno, Marlui, Gereba, Titane, Guru Martins, Ney Couteiro, Lila, Almir Sater, Dércio Marques, Bule-Bule, Dinho Nascimento e Vidal França são alguns dos convidados especiais do CD João Bá - 50 Anos de Carreira, que o cantador lança no domingo, no Sesc Pompéia. No palco, com ele, estará o também baiano Vidal França. Acompanhados por grupo de grandes músicos, lembrarão obras que marcaram a carreira de João Bá, como Facho de Fogo (deles dois), que Diana Pequeno defendeu no festival da TV Tupi de 1966, quando a história começava a ser contada A Barca - Sexta e sábado, às 19h30. Entrada franca (os ingressos devem ser retirados com 1h30 de antecedência). Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, tel. 3268-1777. Até sábado João Bá - Domingo, às 18 horas. R$ 5,00 (estudantes), R$ 7,50 e R$ 10,00. Teatro do Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, tel. 3871-7700 Ponto in Comum - Sexta e sábado, às 21 horas. De R$ 4,00 (estudantes), R$ 8,00 e R$ 16,00. Sesc Ipiranga. Rua Bom Pastor, 822, São Paulo, tel. 3340-2000.

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