MPB é redescoberta pelas mãos de DJs ingleses e belgas

Jason Forrest (TIM) e os 2 Many DJ´s (Nokia Trends) querem conhecer mais MPB

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Por Agencia Estado
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Intensificam-se os diálogos entre a música popular brasileira e a eletrônica inglesa - para além dos clichês. O DJ inglês Gilles Peterson acaba de lançar na Europa o disco Back in Brazil, no qual apresenta, aos europeus, artistas da velha e da nova guarda da MPB, como Wilson das Neves Trio Mocotó, Sérgio Ricardo, Dom Salvador, Wilson Simonal. Back in Brazil é a seqüência de Peterson para a compilação In Brazil, na qual já iniciava esse mergulho na tradição da música afro-brasileira. Outro inglês, Jason Forrest, atração do TIM Festival, chega esta semana interessado em conhecer a música de brasileiros como Felipe Venâncio, que festeja 20 anos de carreira. "Ouvi aquela coletânea de remixes, Cidade de Deus, e gostei demais das últimas faixas. Muito rápidas, cortes muito precisos, realmente bacana. Você conhece esses caras?", perguntou o músico, em entrevista à Agência Estado. As "últimas faixas" são de Ramilson Maia, Drumagik, Black Gero e Autoload. Cada produtor tem suas preferências. O inglês Carl Cox, por exemplo, com seu selo Intec Records, busca representar nomes quentes da cena techno e house. Uma de suas escolhas foi o brasileiro Renato Cohen. E Anderson Noise já é consagrado em clubes que ficam a milhas de distância de sua Belo Horizonte. Bonde do Rolê inspira belgas Os belgas do 2 Many DJ?s chegam ao Brasil anunciando remix do grupo curitibano Bonde do Rolê, que fez excursão elogiada pela Inglaterra - sem falar no sucesso assombroso do Cansei de Ser Sexy. "O Bonde do Rolê é muito divertido. São caras legais?", indagou Stephen Dewaele, líder do grupo, que toca aqui no festival Nokia Trends, em 25 de novembro (e, em janeiro, lança em Paris e Londres um longa-metragem com suas performances). Essa ponte sem barreiras entre dois mundos não é uma novidade para Gilles Peterson, disc-jóquei da BBC que apresentou o paulistano DJ Marky à Europa. Em maio, Peterson esteve no Hotel Marina Palace, no Rio, para gravar entrevistas com João Donato, Menescal, Joyce, Carlos Lyra e Marcos Valle. "Os brasileiros estão ganhando em nosso próprio jogo: o drum?n?bass, o techno e tech house. Na verdade, eles são muito bons em quase todos os estilos de música eletrônica", disse Peterson, quando iniciou sua arqueologia musical pelo Brasil. O trabalho de difusão de Peterson, e de outros como ele (Matthew Herbert, por exemplo), impulsionam a MPB na Inglaterra, assim como David Byrne faz em Nova York há uma década. É o que acontece, por exemplo, com o selo belga Crammed Discs, que impulsiona no exterior as carreiras de revelações da MPB, como Cibelle, Apollo 9, DJ Dolores, Curumin, Bossacucanova. Djs e produtores ditam o ritmo para colegas gringos O bacana desse movimento é que os DJs e produtores já não são apenas "descobertos" pelos colegas gringos. Eles agora influenciam e ditam o ritmo dos novos achados musicais. É o caso do DJ e produtor Gui Boratto, paulistano de 32 anos. Em 2002, Boratto teve um hit (Music Will Never Stop) tocado por Pete Tong na Radio One da BBC e por Boy George no Ministry of Sound. No ano passado, o DJ mais celebrado do planeta, Paul Van Dyk, lançou o single Sunrise, de Boratto. E aí foi crescendo sua lista de admiradores: Timo Maas, Michael Mayer, Hernan Cattaneo, entre outros. Felipe Venâncio, DJ carioca que, há 20 anos, já estava na ativa tocando no clube Crepúsculo de Cubatão, crê que se vive uma fase de grande maturidade da música eletrônica e vê movimentos distintos na expansão. Um é a busca que superprodutores estrangeiros fazem pelos originais daquilo que ouviram como samples. "A fase de procurar os originais é cíclica", ele diz. O outro é a efetiva conquista de mercado externo por artistas novos, como Cibelle e Apollo 9. "Uma coisa é ter os timbres nacionais, e a outra é saber usá-los combinando com outras coisas. Esses artistas sabem fazer isso", considera.

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